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Estudo mostra desigualdades raciais na educação e mercado de trabalho

Foto: Getty Images

O mercado de trabalho ainda apresenta desigualdades raciais. De acordo com dados da Síntese de Indicadores Sociais 2023, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento-hora dos trabalhadores ocupados brancos é de R$ 20,10, sendo 61,4% maior que o rendimento da população ocupada preta ou parda, que foi de R$ 12,40.

A desigualdade de renda persiste qualquer que seja o nível de instrução. Entre os trabalhadores que não completaram o ensino fundamental, o rendimento-hora foi de R$ 10,90 para os brancos e de R$ 8,40 para os negros. A maior diferença ocorreu no grupo de ocupados com ensino superior completo: os brancos receberam, em média, R$ 35,30 por hora, 37% a mais que os R$ 25,70 auferidos por pretos ou pardos. As atividades com menor remuneração e mais informalidade tinham maior proporção de trabalhadores negros, como a agropecuária (62%), a construção (65,1%) e os serviços domésticos (66,4%).

Segundo a consultora de Recursos Humanos, Karine Soares, para que as pessoas possam falar sobre a presença do racismo nas relações sociais e dentro de instituições são necessárias ações de conscientização. “Estamos vivendo um momento importante para que as empresas repensem sua política interna e façam uma avaliação para mudar essa realidade, inserindo mais funcionários negros, principalmente em posições de liderança. Por isso, é tão necessário ter uma cultura organizacional que parte da equidade racial”.

Para Karine, iniciativas podem ser criadas a fim de estimular a promoção da equidade racial nas equipes, além de políticas de tolerância zero ao racismo. “As lideranças das empresas devem reconhecer a importância das práticas de inclusão racial para o crescimento, relevância e potencial criativo do negócio. Diversidade, equidade e inclusão devem ser pilares importantes na educação corporativa. O setor de RH deve criar, alinhado às áreas do negócio, novas oportunidades de contratação, além de ampliar a participação de pessoas negras nos processos seletivos”.

A consultora afirma que também é importante estabelecer um código de ética e conduta como ferramenta guia para advertir, punir ou até mesmo desligar pessoas colaboradoras da organização por conta de comportamentos racistas.

A questão racial se revelou também marcante na dificuldade de acesso de jovens ao mercado de trabalho e aos estudos. Em 2022, o Brasil ainda tinha 10,9 milhões de jovens de 15 a 29 anos que nem estudavam nem tinham um trabalho, o equivalente a 22,3% da população nessa idade, sendo 7,4 milhões deles negros e 3,4 milhões brancos.

Dos quase 11 milhões de jovens que não estudavam nem estavam ocupados em 2022, 43,3% eram mulheres pretas ou pardas (4,723 milhões), 24,3% eram homens pretos ou pardos (2,657 milhões), 20,1% eram mulheres brancas (2,195 milhões) e 11,4% eram homens brancos (1,241 milhão).

O professor de sociologia, Roberto Ferreira, diz que o problema começa na própria origem social, passa pela escola e se reforça no mercado de trabalho. “Ao analisar o cenário completo, é possível perceber que não apenas no mercado de trabalho ocorre essa discriminação. A população negra também apresenta os piores índices de educação e frequência escolar, as menores rendas e as maiores taxas de mortalidade”.

Entre os brasileiros pretos e pardos, 40% viviam em situação de pobreza em 2022, praticamente o dobro da proporção de brancos (21%) nessa situação. No grupo de negros, 7,7% estavam sobrevivendo em condição de pobreza extrema, enquanto que entre os brancos essa incidência era reduzida a menos da metade, havia 3,5% de miseráveis no grupo de brancos.

Ferreira afirma que apesar da leve melhora no número de cidadãos fora da extrema pobreza, o cenário permanece de alta vulnerabilidade para pessoas negras. “A expansão de programas, como o Bolsa Família, além de políticas públicas de acesso, são fundamentais para que mais pessoas negras saiam da extrema pobreza e consigam melhor formação e emprego, diminuindo os trabalhos informais”.