As atividades econômicas do país estão paralisadas a mais de um mês por consequência da pandemia do coronavírus. Em várias cidades, para tentar conter a doença, os comércios estão fechados e as pessoas isoladas em casa. O fechamento de lojas e shoppings já soma diversos prejuízos. Por causa disso, 84,3% dos empresários de Minas Gerais defendem a volta integral ou em escala reduzida das atividades empresariais.
Segundo a avaliação feita pela Fecomércio MG, o percentual de empresários que precisou paralisar suas atividades em decorrência do vírus atingiu 67%, 6,5 pontos percentuais (p.p) acima da expectativa apontada no relatório anterior, divulgado no início de maio. A maioria deles (35,5%) aponta que será capaz de manter a operação por mais um mês. Por outro lado, 32,5% das empresas estão funcionando, dado o caráter essencial do bem vendido e/ou serviço prestado ou a adoção do regime home office.
A situação foi piorando junto com a intensificação das medidas de isolamento. Em meados de março, 54% das empresas do estado tiveram perdas em vendas, prestação de serviços e produção superiores a 50%. Já em abril, o percentual atingiu 57,3%, mas as perdas chegaram a 60%.
Os principais impactos citados pelos empresários de Minas Gerais foram queda no volume de venda, da prestação de serviços e da produção (23,5%); falta de capital de giro (15,4%); escassez de dinheiro para o pagamento de compromissos (14,9%); alteração no fluxo de clientes (13,9%) e dispensa temporária de funcionários (10,3%). A inclusão de itens relacionados a recursos financeiros e suspensão de contratos são as novidades em relação ao levantamento anterior
O economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida, não vê a volta gradativa ou total do comércio atenuando o cenário. “Nós temos um problema global, sanitário e humanitário, que desaguou numa crise econômica. O impacto é significativo, seja no investimento ou no consumo familiar, em Minas, no Brasil e em todo mundo. A volta das atividades comerciais agora vai atenuar os efeitos, mas não reverter o quadro em curto prazo”.
Ele adiciona que os impactos são diretos, uma vez que as empresas são impossibilitadas de operarem por conta dos decretos municipais e, com isso, veem seu faturamento reduzir. E indiretos, já que há uma mudança de consumo das famílias. “Elas passam a priorizar bens de primeira necessidade, ou seja, alimentos e medicamentos, abrindo mão de bens secundários como eletroeletrônicos, móveis e vestuários”
O efeito disso, em médio e longo prazo, é da cadeia que afeta não somente o varejo, mas também o atacado, a produção industrial e a prestação de serviços e, consequentemente, há uma deterioração dos indicadores relacionados a emprego e renda. “Toda sociedade acaba sentindo esses reflexos. A dúvida é se essas empresas continuarão a desempenhar suas atividades pós- -pandemia, isso porque mais de 90% delas são micro e pequenas empresas que já operam com o fluxo de caixa apertado e não têm muita expectativa de seguir com suas operações em um cenário prolongado de isolamento social”
Dona de uma loja de roupas, a empresária Marta Duarte teme não conseguir reabrir seu negócio. Por isso, ela defende a volta gradativa do comércio. “Acho que é preciso que as autoridades pensem em uma forma de retomar nossas atividades, sem colocar a população em risco, no entanto, não tenho muita esperança de ver isso acontecer. Sinto que a minha loja não seguirá adiante”, prevê ela que conseguiu vender parte do estoque em liquidações feitas nas redes sociais.
Já para a empresária Flávia de Sá, dona de uma loja de sapatos, não é o momento para o retorno. “Sei o que todos os empresários estão passando, pois eu mesma estou nessa situação, mas acho que, com jeito, todo mundo se adapta. Eu estou vendendo por delivery e fazendo entregas com o máximo de segurança possível”.
Ela acrescenta que o Dia das Mães foi um alívio. “Entrei em vários grupos nas redes sociais, fiz promoções, me virei em três para conseguir. Acho que, nesse momento, é preciso ter criatividade e perseverança, pensando sempre que a vida vale mais”
Aliás, a opção de delivery tem sido a solução que 26,1% das empresas encontraram para driblar os impactos, todas elas, implementaram o serviço, além das vendas on-line por e-commerce e mídias sociais. Além disso, 42,4% dos empresários mineiros pretendem contratar uma linha de crédito especial, enquanto 3,4% já tomaram financiamento junto às instituições financeiras.