Quem anda por Belo Horizonte já percebeu que, em alguns pontos da cidade, o movimento de carro diminuiu drasticamente, fato corroborado pela pesquisa VAI (Vehicle Artificial Intelligence), sistema de conectividade automotiva. Segundo o estudo, na semana de 4 a 10 de março, realizava-se uma média de 6,66 viagens por dia, totalizando 127 minutos de deslocamento diário. Enquanto que no período de 18 a 24 de março a média de viagem passou para 3,53 e o uso em tempo para 53 minutos, ou seja, 58% a menos do que a primeira semana. Fazendo um comparativo com a média nacional, a redução do deslocamento na capital mineira foi 15,7% maior.
João Marcelo Barros, diretor e sócio-fundador da Wings, disse que, pelos números e período analisado, é possível observar que essa queda está diretamente relacionada às medidas de isolamento social propostas pelo Ministério da Saúde e governos estaduais brasileiros. “Partindo do princípio que tem menos carros circulando, isso também significa um menor número de pessoas nas ruas, afinal essa é a recomendação dos órgãos de saúde para o combate ao novo coronavírus”.
Ele ressalta que essa situação é inédita no país. “Nossa experiência com o VAI, monitorando os hábitos de condução do brasileiro, mostra, pela primeira vez, essa diminuição drástica no uso do carro. Ainda somos muito ligados à cultura do automóvel, em muitos casos, devido à carência do transporte público”.
Em relação aos dados nacionais, a pesquisa aponta que o tempo gasto no carro por dia caiu 50,35%, entre 18 e 23 de março, na comparação com a primeira semana do mês. Já o número de viagens por veículo foi reduzido em 41,39%. Entre os estados, Santa Catarina foi o que apresentou maior redução no uso, com queda de 71% na média de tempo gasto na rua por veículo. Na sequência aparecem Alagoas e Amazonas, com redução de 64% e 59%, respectivamente. Minas Gerais aparece em 6º lugar no ranking, com redução de 50,74%.
Para Barros, quando o isolamento social terminar, a tendência é que os veículos voltem a circular normalmente, sobretudo nos grandes centros urbanos. “É muito difícil traçarmos qualquer perspectiva no momento, pois não sabemos o modo como essa pandemia vai ou não evoluir e quais serão as respostas do governo a esse cenário. O que observamos não é uma mudança de cultura do motorista em relação ao uso do carro, mas uma alteração pontual devido à nova realidade. Caso, as medidas de isolamento social continuem, a tendência é que esse número permaneça baixo, no entanto, acreditamos que a circulação volte à normalidade após a quarentena”.
Sem carro
Uma das pessoas que está cumprindo, rigorosamente, a quarentena é a publicitária Raquel Albuquerque, 28. Ela conta que desde o dia 16 de março tem trabalhado home office e, por isso, não sai de casa. “Como moro com a minha avó, que está no grupo de risco, estou tomando o máximo de cuidado possível. Tudo que precisamos, eu compro on-line, com isso, meu carro está parado na garagem”.
Ela acredita que fará uma boa economia com essa mudança. “Eu sou uma pessoa que usava o carro para tudo, inclusive, para comprar pão. Por isso, o gasto com gasolina era alto, porém, como não estou saindo de casa, acho que terei um dinheiro extra ao final do mês”.
Questionada se vai mudar os hábitos após o isolamento social, a publicitária diz que pretende, pelo menos, reduzir o uso do veículo para curtas distâncias. “Acho que abandonar o carro e ir de ônibus para o trabalho eu não farei, mas, com certeza, quero deixá-lo na garagem quando eu for fazer algo dentro do bairro”, finaliza.