Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil ocupa a primeira posição no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Para evitar que o veneno chegue aos pratos, muitos consumidores têm diminuído a ingestão de determinados alimentos e buscado formas mais saudáveis.
É o que revela o faturamento do segmento: o mercado brasileiro de produtos orgânicos faturou R$ 4 bilhões no ano passado, 20% a mais do que o registrado em 2017, segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis). O Brasil já é apontado como líder do mercado de alimentos orgânicos na América Latina. Porém, quando se leva em conta a extensão de terra destinada à agricultura orgânica, o país fica em 3º lugar, depois da Argentina e do Uruguai, e em 12º no mundo.
Para o diretor da Organis, Cobi Cruz, o faturamento foi dentro do estimado. Para este ano, as expectativas também são positivas. “É difícil ter uma perspectiva, porque o Brasil vive um cenário muito difícil e incerto, mas acreditamos que o crescimento será de 15% a 20%”.
Ele adiciona que o país está caminhando para a estruturação do mercado de alimentos orgânicos que, apesar de tem muitas oportunidades, ainda enfrenta variados desafios. “É um setor que ter muito a crescer. Como instituição, precisamos criar espaços orgânicos, com ações práticas para atrair mais consumidores e simpatizantes”.
É preciso também conscientizar as pessoas do que é a produção orgânica. “Os brasileiros estão tomando consciência em relação ao que tem chegado ao nosso prato, mas também percebo que muitos não sabem o que é um produto orgânico. É importante esse trabalho de conhecimento, principalmente dos jovens que, quando aprendem algo, tem o poder de espalhar para os demais”.
Mas, ao fazer um comparativo, Cruz percebe uma grande evolução. “Muita coisa precisa ser feita, mas avançamos nos últimos 10 anos. Os orgânicos dizem sobre a nossa saúde, o cuidado de nós com nós mesmos. Hoje não é mais considerado produto de primeira classe. Ele é mais caro sim, mas comparado ao quê? A comida no Brasil é barata, mas não tem a qualidade tão boa. É uma série de fatores”.
Fernanda Vidal, uma das fundadoras da Casa Horta, observa a dificuldade em dar preço nesse tipo de produto. “Tentamos ser o mais acessível possível. Somos um negócio social e repassamos o lucro para os produtores, permitindo que o valor valha mais a pena do que o orgânico encontrado antes em BH”.
Ela ainda diz que a sazonalidade do alimento não é respeitada. “Nós estamos acostumados a comer todas as frutas, legumes, etc o ano inteiro. Nosso hábito de consumo não é a partir do que o produtor cultiva, mas sim daquilo que queremos comer. Não existe uma compreensão e nem o costume de adaptar o paladar ao sazonal e a produtos locais”.
A agricultura comum, com o uso abusivo de agrotóxicos e semelhantes, consegue essa oferta. “A produção é mais variada, mas vai muito além disso, é uma questão cultural. Nossos avós e pessoas do campo sabem valorizar esse tipo de alimento, porém as outras gerações precisam também buscar esse conhecimento”.
Números orgânicos
Os EUA lideram o mercado global de orgânicos, seguido da Alemanha, França e China. O setor mundial movimentou cerca de US$ 97 bilhões, em 2017. Segundo a Federação Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica (Ifoam), cerca de 3 milhões de produtores orgânicos estão identificados e espalhados por 181 países.
A agricultura orgânica segue em expansão e já atinge 70 milhões de hectares em todo o mundo. Na América Latina, a produção se estende por 8 milhões, o que corresponde a 11% da área mundial. Em extensão de terra, o Brasil cresceu mais de 204 mil hectares na última década, atingindo 1,1 milhão de hectares, em 2017.
O número de unidades produtoras de orgânicos cresceu 60% nos últimos 5 anos em Minas Gerais, segundo levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).