Durante a Copa do Mundo, até os mais desligados de esportes já devem ter notado a seguinte cena: um jogador sofre falta, vai ao chão e grita de dor. A equipe médica entra em campo e encharca a lesão do atleta com um spray que parece “mágico”, já que, momentos depois, ele está de pé e correndo novamente. Afinal, o que é esse santo remédio?
Andressa de Mello, doutora em fisioterapia com ênfase na área de ortopedia, traumatologia e esportiva e professora do Departamento de Ciências do Esporte, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que não é milagre, mas sim um spray de “gelo”, que gera um efeito analgésico local “imediato”.
“Após a aplicação do spray, ocorre estimulação de receptores cutâneos que induzem algumas sensações térmicas, diminuindo a sensação de dor”, explica Andressa. O produto tem em sua composição gás, salicilato de metila, álcool e componentes como cânfora e mentol. É facilmente encontrado em farmácias e pode ser comprado sem restrições.
Mas não se empolgue. “É importante ressaltar que o spray não soluciona a lesão e/ou problema. Apenas ‘mascara’ para o atleta retornar para o campo ou quadra. É necessário investigação por meio do atendimento médico e fisioterápico para resolução da disfunção”, completa.
O recurso é usado com frequência em times profissionais de futebol. O quarto goleiro do Cruzeiro, Vitor Eudes conhece bem o alívio e o pós-efeito. “Na hora, dá uma reduzida na dor e anestesia um pouco, mas depois do jogo, quando o sangue esfria, sempre dói mais do que antes”, conta.
No futebol amador também é comum. Marcos Santos, que joga por lazer, conta que durante um jogo, conseguiu passar pelo goleiro, que não aceitou a situação e o chutou com força na região da panturrilha. “Não consegui nem colocar o pé de apoio no chão e tive que sair imediatamente, em seguida aplicaram o spray”, lembra. “É um alívio imediato, dependendo da gravidade, você consegue tranquilamente continuar no jogo. Infelizmente, é só no momento, depois com certeza vai doer e você vai continuar sentindo desconforto no local atingido”. Segundo ele, o spray faz parte de um “kit de primeiro socorros” dos jogadores.
A fisioterapeuta Fernanda Viegas afirma que ao mascarar a dor, os efeitos depois da partida podem ser mais graves. “Após a lesão, se o atleta volta a jogar na mesma intensidade, porém ‘sem dor’, ele pode ultrapassar o limite do seu organismo, inclusive fazendo com que a lesão piore”.
[box title=”” bg_color=”#9caebf” align=”center”]A aplicação em alergias, feridas e escoriações abertas, dentro da boca, sobre os olhos, em crianças, mulheres grávidas ou lactantes são algumas das contra-indicações, de acordo com a fisioterapeuta.[/box]