O retorno à sala de aula pode ser algo desafiador para quem está afastado há algum tempo, mas isso não tem sido empecilho para alguns brasileiros. Segundo pesquisa do Ministério da Educação (MEC), tem aumentado em cerca de 2% por ano o número de pessoas acima dos 40 anos que prestam vestibular com o intuito de cursar o ensino superior. No entanto, o relatório Education at a Glance 2017 (Um olhar sobre a educação, em tradução livre), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra que há 2 anos, mais da metade dos adultos, com idade entre 25 e 64 anos, não tinham acesso ao ensino médio e 17% da população ainda não havia concluído o ensino básico.
Os números estão muito abaixo da média dos países da OCDE, que têm 22% de adultos que não chegaram ao ensino médio e 2% que não concluíram o básico. O relatório, contudo, mostra um avanço, pois entre os adultos de 25 e 34 anos, o percentual de alunos que completou o ensino médio subiu de 53%, em 2010 para 64%, em 2015.
No programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) a participação dos idosos faz parte de uma parcela da população brasileira que não teve oportunidade de frequentar a sala de aula na idade certa. Segundo dados do Censo Escolar, são pouco mais de 3 milhões de pessoas dessa faixa etária matriculadas em escolas da rede pública estadual e municipal de ensino.
De acordo com dados da Secretaria de Estado de Educação (SEE), desde 2014, Minas Gerais registrou um aumento significativo nas matrículas da EJA nas escolas da rede estadual. Em 2015, o número de alunos atendidos no programa era de 209 mil estudantes nos ensinos fundamental e médio. Em 2016, com a ampliação da oferta de turmas, foram matriculados 261 mil alunos. Só no primeiro semestre de 2017 foram abertas 5.393 novas turmas em todo o Estado, totalizando 160 mil matrículas na EJA ensino fundamental e médio. No segundo semestre, os números totais de matrículas ainda estão sendo apurados pelo sistema, mas de acordo com a assessoria, a expectativa é de que supere o ano anterior.
Censo Escolar 2014, 2015 e 2016, na rede estadual, o número de matrículas de alunos com idade maior ou igual a 40 anos foi:
Ano | Nº de matriculados |
2014 | 34.345 |
2015 | 31.447 |
2016 | 37.131 |
Fonte: SEE
Aos 51 anos, Selma Pimenta concluiu o ensino médio em julho deste ano. Ela conta que decidiu voltar a estudar porque os filhos já estavam grandes e sentiu a necessidade de aprender mais. “Eu não penso em fazer faculdade, mas quero fazer cursos. Hoje, indico e animo as pessoas a retornarem à sala de aula, pois é muito importante concluir os estudos”.
Selma ressalta ainda que a ajuda dos filhos foi essencial. “Quando achava algo complicado, eles me direcionavam”, conta orgulhosa.
Em constante evolução
A consultora da Empregar Talentos e professora universitária Marcilene Martins destaca como é importante se aperfeiçoar continuadamente. Hoje, ela tem 43 anos, possui uma graduação, 2 pós-graduações e um mestrado. Mas em 2016, decidiu cursar psicologia. “Eu decidi voltar, pois achava que faltava um complemento na minha formação. Sou administradora e trabalho com pessoas, por isso escolhi a psicologia. Terminei o mestrado em 2015, e em 2016 já estava matriculada na graduação”.
Ela conta que não tem dificuldade com o conteúdo, pois gosta muito de estudar, mas, como a maioria das pessoas são mais jovens, sentiu um pouco de resistência da turma, porém, hoje, já no 4º período, ela diz que as coisas mudaram.
Como consultora de RH, Marcilene salienta que uma graduação não é o suficiente. “O mercado está exigindo muito em termos de qualificação e multifuncionalidade. Às vezes, você não quer obter um novo título, mas pode fazer uma pós-graduação. Para a empregabilidade é essencial. Hoje, há uma maior facilidade para estudar”.