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Homens são três vezes mais propensos a terem doenças cardiovasculares

“Ignorei vários sintomas até sentir uma dor forte e aguda no peito. Perdi os sentidos e quando acordei já estava a caminho do hospital”. Esse é o relato do pedreiro José Carlos Martins que, há 3 anos, sofreu um infarto do miocárdio. Assim como ele, 300 mil pessoas sofrem do mal súbito todos os anos no país, mas, diferente do que aconteceu com José Carlos, estima-se que metade dos quadros sejam assintomáticos.

De um modo geral, as doenças cardiovasculares são líderes em morte no mundo, sendo responsáveis por quase 30% dos óbitos no país. Os homens são três vezes mais propensos ao problema, principal motivo de morte do gênero masculino no Brasil.

Hábitos ruins podem ajudar a desencadear as patologias. É o que explica o professor do departamento de cirurgia da UFMG e cardiologista Charles Simão. “Estamos cansados de ouvir sobre isso, mas ainda encontramos dificuldades em entender: o consumo de alimentos gordurosos, falta de atividade física, fumo e alta ingestão de bebidas alcoólicas contribuem para que o paciente seja acometido com uma dessas doenças”.

Essa era exatamente a vida que José Carlos levava. Ele, inclusive, fazia parte dos 60% de homens que não tem o hábito de ir ao médico. “Pra mim, era besteira. Se eu não estava sentindo nada, pra que ir? Não consumia tanta gordura, mas um churrasquinho, no domingo, com uma cerveja era costume”.

Ele não é fumante, mas, ao longo dos seus 62 anos, nunca fez atividade física. “Carreguei muito saco de cimento nessa vida. Academia pra quê? Sempre me senti disposto e saudável para o meu trabalho. Hoje, vejo que estava errado, porque a dor que senti não desejo para ninguém”.

O pedreiro relembra quando enfartou. “Fiquei o dia todo com uma sensação esquisita de azia mais forte e ar preso. Uma dorzinha na costela, coisa comum na minha profissão”.

José Carlos ficou internado por 1 mês e meio e foi submetido a um cateterismo. “Atualmente entendo que preciso me cuidar mais. Tento pegar serviços mais leves, só de reparo, pois o médico aconselhou a não carregar peso. Agora vou de 6 em 6 meses fazer acompanhamento”.

O cardiologista explica que as doenças cardiovasculares têm fator genético. “Hoje sabemos que as pessoas que têm casos de doenças na família precisam de mais atenção, pois a predisposição é maior”.

É por isso que o estudante de engenharia civil, Pedro Marques fica sempre de olho na saúde. “Na minha família tem vários hipertensos, além disso, um tio já enfartou. Prefiro me cuidar para não ter surpresas”. Ele faz atividade física e tenta manter uma dieta balanceada. “Minha pressão às vezes sobe, nada alarmante, mas já pode ser um indício”.

O que causa

Segundo Simão, as doenças cardio e cerebrovasculares se manifestam em vários locais. “É um envelhecimento, calcificação, reposição de placas de cálcio e gordura nas artérias. Um dos principais órgãos acometidos, sem sombra de dúvidas, é o coração”.

O infarto do miocárdio é apenas um dos problemas. “Podemos considerar as doenças coronarianas, as mesmas que causam o infarto e também, a longo prazo, podem fazer o coração dilatar, o que conhecemos como insuficiência cardíaca”.

Por que acomete mais os homens?

O especialista acrescenta que as mulheres são protegidas pelos hormônios em sua idade fértil. “A incidência e o índice de doença coronariana nas mulheres é um terço do total dos homens. Ela tende a se igualar por volta dos 70 anos. Nós podemos considerar que desde o dia que nascemos começamos a sofrer algum processo de degeneração das nossas artérias, mas as mulheres são protegidas pela fertilidade”.

Outro fator é que os homens fumam e bebem mais. “Além disso, são mais propensos a obesidade e ao estresse. Fora isso, na sociedade, grande parte dos postos de trabalho são assumidos pelo sexo masculino que acaba pagando o ônus por isso, sendo acometidos por doenças cardiovasculares e, provavelmente, essas patologias estão associadas a esses fatores de risco”.