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6,5% das ocorrências nas escolas são sobre uso de drogas

O estudo Diagnóstico Participativo das Violências nas Escolas: Falam os Jovens ouviu alunos de colégios públicos de Belo Horizonte e outras seis capitais sobre as hostilidades vivenciadas nesse ambiente. Ele foi feito, em 2015, pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e a Organização dos Estados Interamericanos (OEI).

De acordo com o levantamento, em Belo Horizonte, 3% das ocorrências no último ano são relativas ao tráfico de drogas e 6,5% são sobre o uso de substâncias ilícitas, como maconha, cocaína, crack, cola, etc. No estudo, as pesquisadoras destacam ainda que “o entorno da maioria das escolas são lugares considerados de vulnerabilidade social, dentro de um contexto de pobreza, violências diversas, condições precárias para esporte, lazer e de saneamento básico. (…) A comunidade é carente, apresenta baixa renda, é rodeada por aglomerados e convive com a violência e uso de drogas”.

Porém, as drogas não são um problema apenas nas instituições públicas. Segundo o estudo realizado pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad), em 2010, a cada 100 alunos da rede privada, 30 já consumiram psicotrópicos, como maconha, cocaína e crack; já nos colégios públicos, o número cai para 24. O mapeamento foi feito com 50.890 estudantes de todas as capitais brasileiras.

Na faixa etária de 16 a 18 anos, a proporção de estudantes de escolas particulares que já usou substâncias ilícitas pelo menos uma vez na vida é ainda maior: 54,9%. Na pública, essa porcentagem é de 40,3%.

A professora do programa de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Regina Medeiros, destaca que é muito difícil controlar os entorpecentes em qualquer espaço social e no ambiente escolar isso não é diferente. “Primeiro a escola tem que reconhecer que a droga é um problema que existe na sociedade e afeta todas as classes sociais e faixas etárias. Não dá para fingir que essa situação não está acontecendo. E não adianta implementar medidas violentas e de embate. Muito melhor seria a formação, com uma educação continuada, para que os professores tenham condições de trabalhar o tema com os pais e alunos e discuti-lo da forma correta”.

Conversando com os alunos

Para saber mais sobre como os alunos lidam com a presença de drogas no ambiente escolar, abordei alguns na saída de dois colégios: Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG) e Escola Estadual Maurício Murgel.

Ao serem questionados se há consumo dentro da escola, todos afirmaram que não, porém ressaltaram que isso acontece fora dos muros e sabem exatamente onde os alunos usam. Perguntados também se os usuários oferecem as substâncias para os outros estudantes, eles responderam que não existe esse tipo de contato. Além disso, todos foram categóricos ao dizer que “usa quem quer”.

Um fato que chamou atenção foi a presença de viatura policial na porta do IEMG. Os estudantes disseram que isso é comum e acreditam que a permanência dos policiais é para tentar coibir a presença de entorpecentes.

Para Regina, o combate às drogas nas escolas deve ser feito de outra forma. “Tenho visto que algumas instituições estão tentando se adaptar para tratar o tema de uma maneira mais correta e moderna, mas existem outras que são extremamente conservadoras e tomam atitudes erradas, como a de chamar a polícia ou família. Isso demonstra que a própria escola e, principalmente, os professores não estão preparados para lidar com a situação”.

Escola em ação

A gerente de gestão do clima escolar da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte (SMED), Eliane Vilassanti, diz que o procedimento recomendado, para as escolas que encontrarem alunos usando drogas dentro de suas dependências, é reportá-lo à Guarda Municipal ou à patrulha escolar. “Não fazemos distinção se a pessoa é apenas usuário ou traficante. Esse papel é dos órgãos de segurança”.

Ela ressalta que, nos últimos anos, a SMED fez uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com o intuito dos profissionais da instituição ministrar cursos para os professores da rede municipal sobre o assunto. “Tentamos tratar do tema com os educadores a partir de diversos ângulos e vertentes. Além disso, temos parceria com a Guarda Municipal para oferecer palestras nas escolas”.

Difícil saída

“Primeiro veio o álcool, que usei muito jovem, com mais ou menos 13 anos e sob influência de amigos na escola. Eu bebia e fumava. Já tinha interesse nas drogas, me envolvi com elas quando mudei de colégio e conheci pessoas mais velhas. Me entrosei muito rápido com essa galera e usava com eles”. Esse é o depoimento de LP*, de 27 anos, que como vários outros jovens, se envolveu com drogas no período escolar.

Ele conta que, quando estava no colégio, tinha uma banda e aproveitava os ensaios para usar entorpecentes. “Após os 18 anos, comecei a utilizar substâncias mais pesadas, como cocaína e sintéticas. “O vício evoluiu e comecei a roubar o que tinha na carteira do meu pai”.

O jovem conta ainda que, para evitar a desconfiança dos pais, começou a vender maconha e foi preso quando estava em uma favela de Belo Horizonte. “Quando isso aconteceu, já tinha mais de 18 anos, fui autuado como usuário e consegui ser liberado no mesmo dia. Mas a intimação chegou na minha casa e, como a minha mãe é advogada, conseguiu o boletim de ocorrência e soube onde e com quem eu estava”.

LP diz que pediu ajuda para os pais, após tentar parar sozinho e não conseguir. “Uma vez cheguei muito transtornado em casa e o meu pai me disse que era para tomar cuidado, pois ele sabia o que estava acontecendo. Já a minha mãe encontrou grande quantidade de drogas na minha mochila”.

Ele ficou internado em um clínica de recuperação por 3 meses e lá conheceu o grupo do Narcóticos Anônimos (NA). “A dona do local é uma adicta – pessoa que se considera dependente química – que já frequentava as reuniões e me levou no primeiro encontro. Fui bem recebido e quando saí da clínica, continuei indo. Foi o NA que me manteve forte no meu propósito de sair das drogas.

Limpo há 2 anos, LP está trabalhando com o pai e aguarda o mês de setembro com ansiedade, pois irá para Portugal cursar medicina.


Narcóticos Anônimos: A instituição se autodescreve como sendo “uma Irmandade ou Sociedade sem fins lucrativos, de homens e mulheres para quem as drogas se tornaram um problema maior”. Para saber mais sobre o NA e onde acontecem as reuniões, basta acessar o site na.org.br ou pelo telefone (31) 99442-0698.


*O nome do personagem foi preservado.