Em 1945, o farmacologista Alexander Fleming recebeu o Prêmio Nobel de Medicina por ter descoberto a penicilina – antibiótico que serve para tratar diversas infecções causadas por bactérias. Em seu discurso, ele deixou um alerta: “o uso inadequado do medicamento poderia tornar os micróbios mais fortes”. Dois anos mais tarde, surgiu o primeiro caso de resistência ao remédio. Hoje, as superbactérias e micro-organismos estão, cada vez, mais resistentes à grande parte dos antibióticos disponíveis no mercado. O assunto é uma das maiores preocupações dos cientistas no que se refere ao tratamento de doenças.
A vice-presidente do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais, Elaine Baptista (CRF/MG), frisa que o antibiótico deve ser prescrito por um médico e que o uso de forma indiscriminada é um dos principais fatores para a resistência. “É preciso muita atenção com esses medicamentos. Desde os horários e intervalos entre uma dose e outra, até a questão de tomar ou não junto com uma refeição. O especialista vai dar melhores explicações quando prescrevê-lo para o paciente e isso precisa ser seguido a risca”.
O pesquisador da Fiocruz Minas, Douglas Pires, explica como funciona o processo. “Bactérias são unicelulares presentes em praticamente todos habitats, desde nossa flora intestinal até o fundo dos oceanos. Diversas espécies são patogênicas, causando doenças de relevância para a saúde pública mundial. Já a superbactéria é um termo genérico dado aos germes resistentes a determinados tipos de antibióticos, ou seja, são linhagens ou variações de microrganismos que se adaptaram ao medicamento, tornando-o ineficaz”.
Elaine elucida que, em muitos casos, os médicos pedem um diagnóstico laboratorial, além do clínico. “Somente os exames poderão mostrar qual é a bactéria presente naquela infecção e qual antibiótico pode combatê-la. Sem ele, pode ser prescrito um medicamento cujo microrganismo é resistente e isso agrava a situação”.
A especialista acrescenta que a resistência antibiótica pode ter grandes impactos na saúde geral da população. “O uso indiscriminado e essa seleção das bactérias estão fazendo com que os medicamentos pesquisados e patenteados não sejam suficientes para controlar os germes. O maior problema, no que se refere ao tema, é o de realmente não ter arsenal terapêutico para controlar certas infecções, podendo levar a grandes epidemias e aumentar o índice de mortalidade”.
Ela afirma que o desrespeito a prescrição médica pode agravar ainda mais o problema. “O que mais acontece é que, às vezes, a pessoa começa a fazer o tratamento, melhora e aí para de tomar a medicação achando que tudo está resolvido. Mas, mesmo sem os sinais, a infecção continua e seus sintomas vão sendo agravados fazendo com que a pessoa corra o risco de ter um quadro muito mais grave que o inicial”.
Foi o que aconteceu com a fotógrafa Amanda Silva. Ela conta que desde os 12 anos fazia uso de antibióticos para curar crises de alergia pelo menos três vezes ao ano. “Porém, em pouco tempo, eu terminava o tratamento. Quando não sentia mais nada, descartava o remédio. Uma vez, o quadro evoluiu para uma pneumonia, mas a medicação não estava funcionando, então o médico aumentou a dose e eu passei mal”.
Ela explica que o mal estar foi um dos efeitos da medicação. “Desmaiei porque não estava conseguindo comer direito. Minha febre não cessava e tive que ficar em observação no hospital. De acordo com o médico, o quadro chegou a esse ponto, pois tinha feito uso de antibiótico por várias vezes naquele ano”.
De acordo com o pesquisador da Fiocruz Minas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vem destacando a importância de se criar políticas de saúde mais eficazes. “Existe uma demanda crescente para o desenvolvimento de novos medicamentos, além da conscientização da população de modo a melhorar a aderência a tratamentos de maneira adequada”.
Você sabia?
Os antibióticos mais usados no país são: Amoxicilina, Ampicilina, Azlocilina, Carbenicilina, Cloxacilina, Mezlocilina, Nafcilina, Penicilina, Piperacilina, Ticarcilina. Sendo que a Penicilina, citada no começo desta matéria é, atualmente, a menos usada, uma vez que a maioria das bactérias já são resistente a ela.