A economia brasileira fechou 2016 em maus lençóis, já que o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 3,6%. O país enfrentou, nos últimos anos, a pior crise de sua história. Contudo, no começo de 2017, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse: “Essa recessão já terminou. Vivemos ainda as consequências dela em muitos aspectos”. Um dos principais resquícios do abalo na economia nacional foi o número de empresas que fecharam as portas. No ano passado, só no Brasil, esse índice cresceu 12,2%. Em Minas Gerais, avançou 35,7%, totalizando 36.635 empresas falidas. Até abril deste ano número já chegou a 9.791, de acordo com dados da Junta Comercial de Minas Gerais (Jucemg).
Foi justamente o que aconteceu com o empreendimento da gerente Daiana Santiago. Ela conta que tentou abrir uma pizzaria, mas que a falta de experiência fez com que o negócio não desse certo. “Comprei a loja de um ex-patrão que estava falindo, mas eu não tinha estrutura para uma empreitada dessas. Como aconteceu tudo de maneira repentina, acabou que eu não conhecia o mercado, não sabia onde buscar os fornecedores, além disso, eu usava o dinheiro da loja para pagar contas pessoais. Eu era muito desorganizada, com isso, em 8 meses, fechei as portas”, recorda.
O consultor de marketing do Sebrae Minas, Antônio Augusto, explica que um dos motivos que leva as empresas a encerrar suas atividades é a falta de planejamento estratégico, bem como ocorreu no caso de Daiana. “Um planejamento estratégico reduz o risco de falência porque a empresa vai entender qual é o seu público-alvo, já que é ele que irá sustentar o negócio. Com base nisso, o empresário saberá como se comunicar com o mercado, qual método de venda utilizar e o mix de produtos. Existe uma curva de conhecimento, o negócio muda a todo o momento, então quanto mais preparado o dirigente estiver, menos impactos irá sofrer”.
Augusto acrescenta que um projeto auxilia o gestor a conhecer a concorrência e o ajuda a se aproximar do cliente. “O proprietário precisa saber com quem irá concorrer e quais produtos e serviços o adversário oferece. Além disso, é essencial que ele busque fidelizar seu público. Hoje, a empresa não pode se preocupar apenas em vender, mas como a experiência de compra como um todo. Ou seja, se certificar de que aquele cliente seja bem atendido e tenha um contato agradável para querer voltar depois”.
Apesar do planejamento estratégico, o especialista elucida que há variáveis incontroláveis no mercado. “Às vezes, mesmo com o plano de negócio, algo externo pode abalar a empresa. Por exemplo, se a corporação adquire seus produtos em dólar e ele sofre uma escalada grande, isso pode inviabilizá-la. Mas assumir riscos faz parte da característica empreendedora. Em um período em que sofremos as consequências de uma retração econômica, se a pessoa não quiser se arriscar, é melhor não iniciar um negócio porque não existe mais zona de conforto”.
Caminho certo
Arriscar foi à palavra-chave para a assistente administrativa Bianca Rodrigues iniciar um negócio. Ela que, há cerca de um ano, abriu uma papelaria, explica que, mesmo com a crise, acredita no planejamento. “Eu busquei entender qual o investimento inicial era preciso, além do perfil das pessoas para que eu pudesse oferecer o que se encaixaria mais nessa demanda”.
Ela conta que para manter as vendas utiliza várias ferramentas. “Eu procuro divulgar os pontos positivos e os benefícios dos produtos que ofereço para que os clientes entendam a necessidade de adquiri-los. Além disso, prezo pelo bom atendimento, e estou nas redes sociais”.
Para Augusto, é preciso inovar. “Às vezes, o cliente muda, mas a empresa não. Ela mantém uma mesmice na sua forma de trabalhar e não atende mais o mercado. Nesse momento é preciso rever o planejamento estratégico como um todo. Muitas entidades promovem cursos de capacitação para auxiliar nisso. O gestor precisa buscar o conhecimento e treinamento de seus funcionários”, conclui.