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Gasolina mais cara faz crescer os serviços de entrega com bicicleta

Modalidade alternativa é uma garantia de renda para milhares de trabalhadores | Foto: Divulgação

Com o alto preço do combustível, além dos gastos para aquisição e manutenção de uma moto, uma alternativa de entrega vem crescendo e gerando renda para milhares de pessoas. São os chamados “bike boys”, que utilizam a bicicleta como ferramenta de trabalho. A startup Giross, especializada em delivery, registrou 30 mil entregas via pedaladas em Minas Gerais este ano. A modalidade corresponde a 20% de todos os entregadores cadastrados na plataforma e as adesões aumentaram 4,2% entre janeiro e abril de 2022.

Somente no primeiro quadrimestre do ano, os preços dos combustíveis subiram, em média, 32,8%. Em Minas, mesmo com redução da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos (ICMS) de 31% para 18%, o litro da gasolina está cotado em R$ 6,57.

Com relação à aquisição de uma motocicleta nova, as fabricantes também atualizaram os valores e o item do modelo simples pode oscilar entre R$ 8.500 e R$ 11.500. Já os custos para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) chegam a cerca de R$ 2.300, dependendo da cidade onde o aluno fizer a aplicação. A manutenção e a revisão também pesam no orçamento e podem abocanhar mais de R$ 200 mensais.

Dado este cenário, o aumento pode ser confirmado pela quantidade de bike boys que circulam pelas ruas. Um deles é João Paulo Soares, que encontrou na modalidade uma forma de ganhar dinheiro. “Fui dispensado na pandemia e não queria ficar sem trabalhar. Já andava de bicicleta como hobby, mas agora virou minha profissão. Manter uma moto, arcar com CNH, gasolina, documentação, impostos é tudo caro, sem falar na manutenção”.

Ele afirma que costuma pedalar mais de 50 km por dia. “Consigo um bom dinheiro com as entregas. Recebo uma média de R$ 5 por cada uma e faço cerca de 10 a 15 todos os dias. Por mês tenho conseguido faturar R$ 3 mil. O pessoal acha curioso a ideia de usar a bicicleta, mas consideram válida a iniciativa. Para me proteger no trânsito, uso todos os equipamentos, como capacete, colete refletor e até uma camisa de manga longa para não pegar muito sol”, conta.

O auxiliar de serviços gerais Amadeu Pereira também atua fazendo entregas usando a sua bicicleta. “Como todo trabalho tem as suas vantagens e desvantagens. Pontos positivos é que não tem horários específicos a cumprir e nem dias certos. Já as dificuldades são o perigo do trânsito e a falta de empatia das pessoas com os ciclistas. Outra questão é quando está chovendo não temos como ficar nas ruas”.

Apesar dos problemas, ele não pensa em largar a profissão. “Nosso dia a dia tem muitos obstáculos, mas já me acostumei. Atuo como bike boy há cerca de um ano. Em todo esse tempo, nunca ganhei menos de R$ 2 mil mensais, trabalhando com jornada de 8 horas diárias. Durante a pandemia, conheço vários colegas que também se cadastraram em aplicativos para fazer entregas”.

Fernanda do Carmo é mais uma que adotou a bicicleta como ferramenta de trabalho há 6 meses. “Ter a bike como meio de transporte é essencial nos dias de hoje. Ela não emite poluentes, não tem gasto com combustível ou manutenções caras e ainda ajuda a fazer uma atividade física e também a ganhar algum dinheiro. Dá para faturar uns R$ 2.500 por mês. Os maiores problemas são os perigos no trânsito e o valor baixo que, muitas vezes, o aplicativo propõe, sem falar nas viagens longas demais”.

Ainda segundo ela, faltam rotas cicloviárias e é necessário disputar espaço com veículos automotores. “Isso coloca nossa vida em risco. Também sinto falta de locais para estacionar a bicicleta. Me protejo como posso no meu dia a dia e não faço entregas durante a noite. Como uso uma bike de qualidade, o equipamento custa caro. Tenho medo de assalto e não arrisco perder meu instrumento de trabalho”, conclui.