São 80 palavras distribuídas em 16 frases eternizadas pelo canto de uma torcida. Assim é o hino oficial do Cruzeiro Esporte Clube, um dos times mais populares de Minas Gerais. Mas você sabe quem é o dono da composição? O responsável é o maestro Jadir Ambrósio e sua principal criação está na ponta da língua dos torcedores cruzeirenses há mais de 50 anos. Na terceira e última reportagem inédita sobre os três maiores times do Estado, você confere algumas curiosidades da criação do hino da Raposa.
Infelizmente, o maestro e compositor Jadir Ambrósio faleceu em setembro de 2014, aos 91 anos. Mas o Edição do Brasil conversou com familiares do autor, para conhecer um pouco mais sobre a história e o compositor do hino do Cruzeiro.
Mineiro de Vespasiano, Jadir é dono de um repertório com mais de 100 músicas e fez o hino do seu time do coração em 1965, ao participar de um concurso da Rádio Inconfidência. A paixão pelo Cruzeiro era tanta que o maestro imortalizou esse amor. “Existe um grande clube na cidade que mora dentro do meu coração”, diz a letra.
Roberto Márcio Ambrósio, filho de Jadir, disse que a composição era o maior orgulho para o pai. “Ele se sentia envaidecido, afinal de contas criar uma canção para um clube de grande destaque tem muita importância. Ir ao Mineirão e ver mais de 100 mil pessoas cantando a música que ele fez o deixava muito contente”.
E dizem que todo mundo tem os seus 15 minutos de fama. Porém, no caso de seu Jadir, aconteceu o contrário, já que esse foi o tempo que ele levou para compor o hino que marcaria a sua vida para sempre. É o que revela a esposa do autor, dona Helena Ambrósio. “Ele dizia que a inspiração veio do céu, quando estava passeando pela Avenida Afonso Pena, próximo à Praça Sete”.
Ambrósio apresentou a composição à diretoria do clube e teve aprovação imediata dos dirigentes da época. Dona Helena diz que a diretoria estava toda reunida, quando Ambrósio mostrou a canção que tinha feito. “Eles não pensaram duas vezes e gravaram logo o disco”. Antes, o clube não tinha nenhuma música oficial.
Ao longo desses mais de 50 anos da criação do hino, Ambrósio já foi homenageado pelo Cruzeiro diversas vezes. Os objetos ficam em um lugar especial na casa da família. “Tenho guardado de recordação uma placa, uma faixa, algumas fotos e uma edição especial da revista do Cruzeiro em que ele participou”, conta a esposa.
O hino do Cruzeiro se popularizou pelo Brasil e o nome de Jadir Ambrósio ficou conhecido nacionalmente. Segundo o filho, o pai dizia que a música abre as portas e pode te levar a lugares que você nunca teria a oportunidade de conhecer. Chamado de o “maestro da massa”, Roberto acredita que essa fama veio da facilidade que o seu pai tinha em compor músicas rapidamente. “Eram poucas as pessoas que faziam a melodia de ouvido como o meu pai. Ele escrevia, manualmente, todas as notas em um papel”, lembra.
Orgulho da camisa celeste
E para um grande clube, ídolos ainda maiores como o ex-goleiro Raul Plassmann. As chuteiras já foram aposentadas há mais de 30 anos, mas ele nunca se esqueceu do time mineiro. Ele conta que não conheceu o compositor do hino, mas que a letra reflete bem a essência do clube. Raul jogou no Cruzeiro por quase 13 anos e disputou 557 partidas.
O atleta conquistou nove títulos no Campeonato Mineiro, uma Taça Brasil e uma Libertadores. Ele relembra os velhos tempos. “Jogar no Cruzeiro e ser um dos maiores goleiros tem um grande prestígio, quanto qualquer título. A gente fica feliz de saber que tem uma importância na história do clube. Assim como Tostão, Piazza e Dirceu, nós fizemos parte de uma geração bacana. E isso também é uma conquista”.
A letra oficial diz: “Eu vivo cheio de vaidade, pois na realidade é um grande campeão”. Mas seja nas vitórias ou derrotas, Raul sentia satisfação de vestir a camisa celeste. “Essa vaidade pode ser ruim ou legal, assim como a palavra mito que têm dois significados: mentira ou uma estrela, por exemplo. E essa vaidade cantada representa o orgulho de ser cruzeirense”, defende.
Torcedora cinco estrelas
Só quem é torcedor cruzeirense sabe a emoção que sente, quando o time cinco estrelas entra em campo. Há mais de 50 anos, dona Maria Salomé da Silva é fanática pelo clube. A simpática senhora, 83, além de ser uma das torcedoras mais antigas, também é funcionária do Cruzeiro desde 1993. Salomé conta que se mudou para Belo Horizonte, em 1958, e trabalhava em casas de família. “Eu fazia meu trabalho rápido para conseguir sair mais cedo e assistir as partidas da Raposa”, relembra emocionada.
Ela é presença garantida em todos os jogos e fala com entusiasmo, que desde a inauguração do Mineirão, em 1965, deixou de ver apenas 24 partidas. E a energia azul e branca dela é tão forte que inclusive o filho também é torcedor do Cruzeiro por causa da mãe. “Ele me acompanha em todos os jogos”. Em casa, ela guarda elementos valiosos. “Tenho meus bichinhos de pelúcia. A Salomezinha é parecida comigo, com os cabelos loiros e o uniforme azul. O Alex Alves é a raposinha velha”. A torcedora diz que esses objetos dão sorte ao time.
Salomé acrescenta que já viajou para São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Goiânia e Brasília para assistir aos jogos. “Quando o Cruzeiro perde em alguma partida, eu não consigo dormir, nem comer direito. Esse time é a minha vida. Se ele não existisse, não sei o que eu faria”, finaliza.
Hino do Cruzeiro Esporte Clube
Existe um grande clube na cidade,
Que mora dentro do meu coração.
E eu vivo cheio de vaidade,
pois na realidade é um grande campeão.
Nos gramados de Minas Gerais,
temos páginas heróicas e imortais.
Cruzeiro, Cruzeiro querido,
tão combatido, jamais vencido. [BIS]