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Sob o efeito de 21 de abril

Ainda estamos sob o efeito das comemorações de 21 de abril, feriado nacional que celebra o “Dia do Patrono Cívico do Brasil”: Joaquim José da Silva Xavier, o alferes da 6ª Companhia de Dragões do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, unidade que pertencia ao exército português no Brasil colônia. Joaquim José, o Tiradentes, foi um dos integrantes do movimento da Inconfidência Mineira ― por causa da derrama: cobrança do quinto do ouro que era destinado à Corte ― que lutou contra o abuso de impostos, a corrupção e sonhava com um país independente do jugo português. O Alferes foi o único definitivamente condenado à morte, e padeceu heroicamente em 1792, enforcado no Campo da Lampadosa, no Rio de Janeiro.

Antes da comemoração da data, o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG) e a Marinha do Brasil fizeram no dia 19 de abril, Sábado de Aleluia, uma belíssima homenagem na Cela onde Tiradentes permaneceu por dois anos e meio, situada na Fortaleza do Patriarca de São José, na ilha das Cobras, em frente ao centro histórico da antiga capital brasileira, administrada competentemente pela imperial Marinha do Brasil. A cela de 2x2m e 5 metros de pé direito é insalubre e contém um buraco, piso de pedras e paredes de alvenaria fortificada, com pequena luminosidade e ventilação, paredes muito largas e portais de grades quadranguladas superpesadas. Um feito dos mais importantes: a Marinha do Brasil e o IHGMG instalaram placa na cela e depositaram coroa de flores, registrado como um dos momentos marcantes da História nacional. Patriotismo, civismo e respeito à memória do Protomártir.

Pois bem! Transferida a capital para a antiga Villa Rica, segunda capital do estado, no dia 21 de abril, comemorou-se com pompas e circunstâncias a segunda data cívica mais significativa da nação, e celebrou-se o aniversário de morte do Protomártir da Independência. Desfiles militares, banda de música, depósito de coroa de flores no pedestal da escultura de Tiradentes no centro da cidade e entrega da Medalha da Inconfidência, a mais importante de Minas e uma das mais do Brasil. Lamentavelmente, ela não é entregue mais naquele lugar, e os homenageados assistem ao evento no auditório da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em um telão, onde são condecorados e advêm os discursos do prefeito de Ouro Preto, do homenageado com o Grande Colar e do governador de Minas. O maior condecorado não participou dessa parte e ficou devendo ao povo mineiro essa gentileza.

Outro ponto da mais alta importância é o feito que o médico José Carlos Serufo prepara para publicação destinada à pesquisa, juntamente com o IHGMG, do qual é presidente, uma preciosa compilação histórica dos originais dos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira, dando mais vida a essa preciosidade. Graças a ele, o IHGMG é o único que possui cópia dos originais. A 1ª publicação dos Autos de Devassa foi impressa em 1936 pela Biblioteca Nacional, a 2ª pela Imprensa Oficial de Minas/Câmara dos Deputados, em 1976, e a última pela Imprensa Oficial/Assembleia Legislativa, todas com onze volumes. Também compilou, com exímia responsabilidade e brilhantismo, os Autos de Tira- -dentes, com suas onze inquirições, compostos e correlatos pelos fac-símiles do original, a transcrição exata e o texto na linguagem atual da língua pátria.

No contexto de taxações e fraudes sem fim, de corrupção generalizada, indignação e insatisfação avassaladoras, “pão e circo” não convencem o cidadão brasileiro, e o país não aquenta mais e conclama pela “liberdade que ainda tardia”!