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Ovo de galinha não tem pelo

O governo atual dá a impressão de que ficou prisioneiro do tempo e os dias se repetem com pequenas variações. Sabemos que economia e política têm ciclos diferentes. O presidente aposta no crescimento da despesa pública e do crédito para reverter a queda da popularidade, sobretudo, provocada pela inflação; ao mesmo tempo o Banco Central aumenta os juros, porque o governo gasta mais do que arrecada. É uma rota de colisão.

Tem um componente muito importante que as últimas pesquisas estão apontando que é a falta de paciência automática com os programas do governo, com o imediatismo do eleitor na busca por resultados, mas, sobretudo, uma exaustão com a política. Existem vários tipos de cansaço como a promessa da picanha tendo que comer ovo, tomar café, as promessas com relação à (in) segurança, um dos principais problemas do país com a violência que cada vez mais faz parte do dia a dia, além da situação da saúde. Existem problemas de todos os tipos e a política não consegue dar as respostas esperadas. O curioso é que os governantes não pagam o preço desta exaustão, neste momento, enquanto o presidente está colhendo uma desaprovação onde todos concordam onde ela começou: foi o Pix.

O Pix de janeiro foi a gota d’água. A interpretação de muita gente é que isso é conjuntural. Assim que as pessoas resolverem o assunto com relação ao Pix e os alimentos voltarem ao preço normal, a situação deve se regularizar. É fundamental que lembremos que tem dois anos que o governo cria insatisfação em vários grupos da sociedade. Vamos lembrar algumas delas que são importantes: o bispo Edir Macedo pede a seus fiéis, no mês de novembro de 2022, para que perdoem o governo, sendo logo contestado pela presidente do PT (atual ministra) que não quer o perdão de ninguém.

Depois tivemos o episódio da “blusinha” que mexe com a população D e E; depois vem a briga com o presidente do Banco Central, Campos Neto, que mexe com os liberais sociais; depois vem a regulamentação dos motoristas de aplicativos que mexe com os empreendedores individuais; em sequência o presidente fazendo declarações sem propósito, a demissão das mulheres do governo e ainda comentando em uma fala que depois do jogo do Corinthians vocês podem ficar com raiva, podem até bater na sua mulher, o que mexeu com os progressistas; a taxação que mexe com os empresários; sem contar com outros comentários infelizes e desnecessários.

Assim, vemos nesses dois anos, que o governo é pródigo em criar insatisfações, não são eventos isolados, não são conjunturais, são estruturais, criando problemas menores e maiores junto a diferentes níveis da sociedade e quando o Pix aparece vira uma gota d’água que se transforma em uma enxurrada, uma avalanche, causando uma reação de todo mundo, tipo “quer saber, não dá mais”. E aí a desaprovação cresce e envolve a todos.

Também chama a atenção o desgaste do Judiciário. Escândalos como o Mensalão, o Petrolão, as liberações do Lava Jato e o 8 de janeiro, minaram a confiança da população nas instituições, agravado pelas polêmicas envolvendo supersalários e decisões questionáveis, a perda de credibilidade da Justiça impacta a estabilidade política e a aceitação das decisões.

Atualmente, o governo conta com 39 ministros, uma inequívoca acomodação política, mas ninguém sabe ao certo para quê. Desses 39, sete não despacham com o presidente há mais de 109 dias e, é lógico, a insatisfação e a falta de prestígio pesam. Poucos sabem o nome de pelo menos três ministros atuais. Muitos acreditam que a queda nas pesquisas se deve, em parte, à falta de contato entre eles, inclusive com os políticos. E, para acrescentar, os balanços de 2024 das principais empresas públicas do país revelam um cenário complexo, com resultados mistos que refletem tantos investimentos significativos quanto déficits preocupantes, registrando saldo negativo de R$ 6,7 bilhões no ano passado. Isso indica que algumas estatais que apresentavam resultado positivo ao final de 2022, estão enfrentando dificuldades financeiras. É o caso dos Correios, com um rombo de R$ 3,2 bilhões. A empresa enfrenta desafios significativos, incluindo a necessidade de reestruturação e a busca por novas fontes de receita. Além dos Correios, outras estatais como a Petrobras, Banco do Brasil, Itaipu, Infraero, Casa da Moeda, também estão sob escrutínio devido às suas dificuldades financeiras.

O governo está buscando soluções para garantir a sustentabilidade dessas empresas. A expectativa é que, com a continuidade dos investimentos e reestruturação das empresas deficitárias, seja possível reverter a situação em anos futuros. Oxalá isto aconteça!