Home > Artigo > Os crimes virtuais

Os crimes virtuais

Como profissional de comunicação vejo o avanço das ferramentas virtuais como uma grande conquista da ciência e da sociedade. O conceito de “aldeia global” do filósofo canadense Marshall McLuhan, baseado especialmente na influência da TV via satélite, nos anos 1960, agora impulsionada pelas redes sociais, está acontecendo de forma e ritmo alucinantes, democratizando informações e conhecimento, criando a globalização social e econômica. Hábitos, cultura, comércio e políticas são fortemente impactados pelos meios e mensagens através dos mais diversos veículos de comunicação. Há, no entanto, uma pergunta que não quer calar – a sociedade, ou todos os povos do mundo, estão preparados para tais avanços? Vamos a algumas considerações.

Umberto Eco, escritor italiano, tem uma frase publicada no jornal “La Stampa”, que ajuda a entender este cenário: “As redes sociais dão o direito de falar a uma legião de idiotas que antes só falavam em um bar depois de uma taça de vinho sem prejudicar a humanidade. Então eram rapidamente silenciados, mas, agora, têm o mesmo direito de falar que um Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis”. Não há como negar esta invasão das mais absurdas mensagens, fake news, violências individuais ou corporativas e a disseminação de crimes através das redes sociais. Raro encontrar quem não tenha sido vítima, ainda, de um crime ou lesão provocada pelos bandidos que infestaram este fantástico meio de comunicação.

Nossos computadores, ou celulares, recebem todos os dias mensagens claramente criminosas, como confirmação de compras inexistentes pelo cartão de crédito, pedidos de doação para entidades reais em contas falsas, boletos falsificados de fornecedores reais, WhatsApp clonado, falsos perfis no Facebook, Instagram, Twitter ou telefonemas de sequestros falsos. Chegamos ao limite da necessidade de usar as ferramentas digitais e ter medo da ação criminosa. Roubos de senhas bancárias ou acesso, via hackers, de nossos dados cadastrais são rotinas que estamos enfrentando cotidianamente. Qual tem sido nossa reação?

Uma campanha da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), através de seus bancos associados, tem alertado os correntistas para se precaverem a estes crimes. É muito pouco. Os sistemas de segurança dos serviços disponibilizados aos clientes são altamente frágeis, possibilitando a clonagem por qualquer bandido iniciante a hacker. Mas e a polícia? Sem as ferramentas mínimas para atuar não há como combater o criminoso. Se os bancos, os poderosos agentes financeiros, ainda não conseguiram sistemas seguros, não será a nossa pobre e despreparada Polícia Civil a conseguir lutar de igual para igual com os criminosos. Mesmo porque, a maioria dos crimes não são de bandidos locais, tem seu campo de atuação em todo território nacional e muitas vezes internacionalmente. Sei que nossa Polícia faz o que está à sua altura.

“O som da liberdade” é um filme em cartaz, que trata do crime da pedofilia, tão disseminada pela internet, merece ser visto para que o leitor tenha a perfeita dimensão do nefasto submundo a que estamos expostos e que faz das redes sociais o seu melhor (pior) veículo. Regular, através de lei, o uso de redes sociais? Não acredito que seja possível. O estado, em defesa de toda a sociedade, tem o dever de ser o agente que combata o crime, qualquer crime. Se a ciência encontrou o caminho da evolução das comunicações há que, com investimentos, criar os meios de combate aos criminosos que a utilizam.

Comecei e termino com Umberto Eco, agora com uma declaração à agência de notícias “EFE”: “Hoje quando afloram os nomes de corruptos e fraudadores, as pessoas não se importam com isso, e só vão para a cadeia os ladrões de galinhas”.