O 15 de novembro (hoje, se perguntarmos a grande parte dos jovens, não saberão precisar as datas cívicas, e muito menos a História do país), é celebrado, com “feriado nacional”, o dia da “mal-proclamada” República brasileira.
A adesão da população e do Parlamento foi nula, pois, os dois únicos deputados republicanos que haviam sido eleitos na última legislatura monárquica, em 1889, no final já não estavam mais entre eles. A Assembleia-Geral Legislativa era composta pela Câmara dos Deputados, com 102 integrantes escolhidos em eleições indiretas, e pela Câmara dos Senadores, com 50 integrantes com mandato vitalício, escolhidos entre a nobreza, a magistratura e o clero, de acordo com a Constituição de 1824.
O marechal Deodoro da Fonseca, o responsável pelo golpe e pela República, e que teve seus estudos custeados pelo bolso do imperador, não queria de fato uma República no Brasil. Sem ele não teria o golpe. Foi convencido a aderir, devido à informações falsas; uma delas: seria preso pelo “primeiro-ministro”, o visconde de Ouro Preto. Inclusive, doente, em 13 de setembro de 1889, observou, com aspereza, ao sobrinho Clodoaldo da Fonseca: “República no Brasil é coisa impossível, porque será uma verdadeira desgraça. Os brasileiros estão e estarão muito mal-educados para serem verdadeiros republicanos. O único sustentáculo do Brasil é a Monarquia; se mal com ela, pior sem ela”. Poucos dias antes do golpe, recomendava taxativo ao sobrinho: “Não te metas em questões republicanas, porquanto República do Brasil e desgraça completa é a mesma coisa; os brasileiros nunca se prepararão para isso, porque sempre lhes faltará educação e respeito”. Deodoro, no final de seu governo, desgastado e desgostoso, disse a um assessor: “Vai buscar o dono da casa”. Ou seja, Pedro II.
Com a queda da Monarquia, o presidente da Venezuela, Juan Pablo Rojas Paúl (1888/1890, país marcado por uma bonança econômica e grandes investimentos), lamentou: “Foi-se a única democracia da América”.
Um dos maiores brasileiros e jurista por excelência, o baiano Rui Barbosa, o Águia de Haia, aderiu ao golpe de 1889 no dia 11 e novembro, tornando-se um republicano “ferrenho”. Foi deputado provincial em 1887, deputado-geral (1878/1884) e senador (1890/1923) pela Bahia; foi o primeiro ministro da Fazenda na nova forma de governo, teve papel crucial, inclusive a revisão final, na elaboração da nova Constituição de 1891, escrita por cinco pessoas; foi exilado, candidato a presidente em 1910 e 1919, e ainda teve votação espontânea em outras seis eleições presidenciais. Múltiplo, foi ainda um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL) e seu presidente, e o idealizador do Supremo Tribunal Federal. “E aí, Rui?! O que fazer?”.
Contra o autoritarismo, no Senado, do qual tinha sido vice-presidente de 1906 a 1909, em 1914 fez emocionado discurso, do qual recortamos: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça; de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Tal foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime [na Monarquia], o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante [o imperador], de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade”.
A “novela” continua. E hoje, a trama política levou o país a um passo de um abismo sem precedentes, e que já está custando muito caro à nação e aos brasileiros. Não há o que se comemorar.