A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou que o Brasil registrou 12 eventos climáticos extremos em 2023, sendo nove deles considerados incomuns e dois sem precedentes. Cinco ondas de calor, três chuvas intensas, uma onda de frio, uma inundação, uma seca e um ciclone extratropical também foram reportados. Neste mês, o Rio Grande do Sul sofre com as chuvas intensas e mais uma onda de calor foi registrada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país. Para discutir sobre o assunto, o Edição do Brasil conversou com o geólogo Marco Moraes (foto).

O que é considerado um evento climático extremo?

É aquele que não ocorre durante uma estação típica. Sabemos que no verão existem chuvas mais intensas e no inverno os dias frios, mas quando a intensidade sai muito do valor normal, é considerado um evento extremo.

Quais fatores têm contribuído para esses episódios?

Já é fruto do aquecimento global. O que vimos no Rio Grande do Sul foram três efeitos concomitantes. O canal de umidade originário da Amazônia e duas frentes que vieram trazendo muita umidade. Essa combinação gerou as chuvas naquela localidade. No Sudeste, temos outono e inverno mais secos e no Sul, mais chuvas por conta de frentes frias que ficam estacionadas, mas não com a intensidade que aconteceu.

Como isso impacta a população e a biodiversidade?

O aquecimento está sendo muito rápido e vai desequilibrar todos os ecossistemas. Durante a seca na Amazônia, o calor causou a mortandade de peixes. A temperatura de superfície global da Terra aumentou cerca de 1,1ºC desde o início da era industrial, efetivamente, a partir dos anos 1950. É uma taxa que torna difícil para os ecossistemas, animais e seres vivos se adaptarem. Podemos chegar a 2ºC até 2030 e a 3ºC até 2050. Na história geológica, fenômenos assim levavam centenas de anos. O aquecimento rápido vai desequilibrar todos os ecossistemas. Isso é uma coisa muito preocupante.

O país tem sido eficaz na mitigação do problema?

Apesar do Brasil estar usando biocombustíveis e energias mais limpas, ainda precisa evoluir bastante para diminuir esses eventos. As queimadas e as taxas de desmatamento estão muito altas e é a principal contribuição para as emissões de gases do efeito estufa. A pecuária também libera gases, que são 80 vezes mais poderosos que o dióxido de carbono. O país deveria preservar as florestas, apostar mais em energia limpa e na eletrificação da frota de veículos.

Quais seriam os caminhos para diminuir as adversidades?

É necessário fazer pesquisas para entender melhor como os sistemas físicos em geral vão se comportar. Desenvolver tecnologias para o enfrentamento desses problemas. Colocar em prática uma série de medidas, como o conceito de cidades porosas, para serem capazes de absorver mais água. Os agricultores têm que pensar na adaptação de culturas para um clima mais imprevisível. A infraestrutura também vai precisar ser adaptada. Temos que trabalhar na redução das emissões de gases do efeito estufa. Isso tudo precisa ser bem articulado com as ações governamentais.