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Ziraldar: o verbo do Brasil Maluquinho

Deveria escrever sobre o 21 de abril (1792), da Inconfidência e inconfidentes, de Bárbara Heliodora a Jacinta Hipólita, de outros que não foram e pararam na História, porque constavam dos “Autos de Devassa”, ou originalmente “Autos de Tiradentes”. Uma história emocionante! Minas à frente. Em 1952, Juscelino Kubitschek instituiu a maior comenda do estado e uma das mais importantes do país: a Medalha da Inconfidência, criada pelo heraldista coronel da Polícia Militar, médico Paulo Penido, amigo do governador, que é entregue todo 21 de abril em Ouro Preto. Esse dia marca também a morte do presidente Tancredo Neves (1985).

Nesse 6 de abril lá se foi uma de nossas maiores personalidades: Ziraldo Alves Pinto. Figura notável, presença marcante, chargista, poeta, jornalista, apresentador, humorista, cronista, pintor, desenhista, dramaturgo e bacharel em direito. Um talento de primeira, “visionário, atemporal, multiartista”, como definiu a sobrinha Adriana Lins, presidente do Instituto que leva o nome dele.

Ziraldo nasceu em Caratinga no dia 24 de outubro de 1932, filho de Geraldo Alves Moreira Pinto e de Zizinha Alves Pinto, e morreu no Rio de Janeiro, cidade onde morou desde jovem. Foi casado com Wilma Gontijo Alves Pinto, filha do ex-prefeito de Luz (MG), Antônio Macêdo Gontijo e de Galdina (Tonico inspirou o personagem Pererê). Wilma foi uma pessoa encantadora, irmã de Francisco de Paula, que foi presidente do Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge) e da Simca do Brasil. Teve com Ziraldo os filhos Daniela (cineasta), Fabrízia (artista) e Antônio (compositor).

Ziraldo deixou várias obras, como o livro “O Menino Maluquinho”, de extraordinário sucesso, e ganhou prêmios como o Jabuti, por esta obra; é um dos escritores infantis mais aclamados do Brasil. Quando eu era pequeno, algumas vezes telefonou para mim em Luz, dizendo que ia passar uns dias lá. Eu o seguia, sem saber ou ligar para a fama do amigo. Em 1995, a coluna J. Couto e o Jornal de Luz o homenagearam com o Troféu Alto São Francisco, na categoria TASF Nacional 95. Na ocasião, domingo cedo, fizemos o traslado dos restos mortais da sogra, dona Galdina, para o jazigo do lado, onde se encontrava o Sr. Tonico. Estávamos todos em uma conversa agradável com múltiplas histórias, quando Ziraldo gritou lá do portão do cemitério: Wilmaaa! Cena que achamos muito engraçada, fazendo-nos lembrar o personagem Fred Flintstone.

Ziraldo fez a capa de meu terceiro livro, “Algumas Estrelas Perdidas” (1986); ilustrou o poema “História de Amor”, do quarto livro, “Amor Gerais” (1997), e um desenho da esposa Wilma para o décimo livro, “Lyra Aterradense” (2014). O saudoso economista Élcio Costa Couto inspirou Ziraldo para o personagem “Jeremias, O Bom”; e Ronaldo Costa Couto expressou: “Perdi um amigo e confidente da vida inteira”. Primos da Wilma e luzenses como ela.

Ziraldo amava profundamente os irmãos, o Zélio, Maria Elisa, Gê e Ziralzi, o melhor amigo. Quando Ziralzi morreu, conversamos por telefone por mais de 1 hora.

Lá se foi um mineiro de boa cepa e um brasileiro à altura de seu nome. Drummond “ziraldou” ao escrever: “Ziraldo atrai um montão de gente com seu ziraldismo. Definição de ziraldismo, se me pedirem, não tenho. Direi apenas que é o próprio Ziraldo em pessoa e cartum. (Ele faz questão da palavra cartum, então, aureliemos o vocábulo). Aliás, seu nome é fonte de nomes, como provarei. Uma sensibilidade inquieta, sempre farejando feições novas da vida, pode ser classificada como ziraldante. A percepção imediata do fato político e sua transformação em charge, zás! É uma ziraldada. Vamos todos ziraldar – apelo que qualquer dia desses ouvirei na rua, e Deus sabe o que de ação, sensação e o mais, cabe em tal verbo”.