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Belo Horizonte

Foto: Divulgação

Em 4 de março de 1963 cheguei a Belo Horizonte, aos 17 anos, vindo da minha gloriosa Santo Antônio do Monte, para estudar e naturalmente, trabalhar. O noturno da RMV nos deixou na Praça da Estação, eu, meu irmão e meu pai que anunciou a frase bíblica – “Até aqui eu os trouxe”. Era outra cidade, ainda provinciana, com graves problemas de infraestrutura, como falta de energia, água, telecomunicações e transporte público. Seus quase 400 mil habitantes viviam tempos de razoável tranquilidade, conformismo, pouca exigência e alta segurança. Os coletivos paravam de circular às 23h. Comunicação, para os padrões atuais, também era muito carente, especialmente pela falta de tecnologia para emissoras de TV e Rádio.

Eram tempos analógicos, no entanto de grande riqueza de valores humanos, profissionais que marcaram época na história da cidade. Seus veículos de comunicação, como Revistas Alterosa, onde trabalhei, Três Tempos, Inéditos, O Binômio, Correio de Minas, Folha de Minas, O Diário, Diário de Minas, também trabalhei lá, Diário da Tarde, Estado de Minas e as TVs Itacolomi, Belo Horizonte, Vila Rica e Alterosa. Rádios Guarani, Inconfidência, Itatiaia, onde vivi o sonho de Januário Carneiro de fazer a Força Nova de Comunicação, Mineira, Atalaia, Cultura e outras eram mensageiros de conteúdos que honravam o jornalismo brasileiro. Uma atividade cultural efervescente, provocada pelas circunstancias da época, movimentavam a cidade. Cinemas, teatros, música, literatura, artes plásticas e demais atividades culturais conheceram nestes anos 1960 o apogeu pelos diversos movimentos no mundo, no Brasil e também aqui. Era, apesar de algumas carências, uma cidade de excelente qualidade de vida com seus parques, jardins, praças, casas noturnas, ruas com o cheiro das damas da noite, as flores, e seus footings da Praça da Liberdade ou Avenida Afonso Pena.

Os prefeitos de então foram, a seu tempo, cuidando das obras necessárias. Oswaldo Pierucceti domou o mal cheiroso Leitão. Hélio Garcia cuidou do Arrudas, suas enchentes e fez o túnel da lagoinha. O Estado de Minas Gerais, com a Cemig, assumiu o fornecimento de energia da cidade, criou a Copasa para cuidar das águas da capital e interior, o governo federal criou a Telemig para cuidar das telecomunicações. Assim, passamos a ter as três melhores empresas de serviços públicos do Brasil.

Alguns prefeitos, ao longo da história da cidade, marcaram época pela visão futurista e soluções para os males da cidade que não parou de crescer, evoluir e trazer novos problemas. Aí acontece o pior dos males, as soluções não vieram com estes novos tempos. O transporte coletivo colapsou, o lixo passou a ser grande desafio, o trânsito teve a multiplicação de veículos e nada foi feito na estrutura viária, a infraestrutura habitacional se perdeu, moradores de rua passaram a fazer parte do cotidiano e a serem absolutamente invisíveis. Exceto Márcio Lacerda, que soube usar do evento Copa do Mundo e fazer obras para o acesso ao Mineirão, e outras para a saúde e educação, tudo mais foi esquecido. Na verdade, são 40 anos de falta de planejamento e projetos urbanísticos. O caso do transporte público é um bom exemplo de péssimo serviço, até pelas opções tomadas ao longo dos anos. Cresce a cidade, seu número de habitantes e nenhuma solução é dada. Falar do nosso metrô é uma ofensa à população.

Nossa Belo Horizonte, capital dos mineiros, planejada e criada para ser exemplo de urbanidade, tem sofrido, há muitos anos, pela incapacidade de seus gestores de dar a ela a importância que merece.

Nestes 60 anos me tornei, com muita honra, Cidadão Honorário de Belo Horizonte, por ela me apaixonei, criei filhos e estão chegando os netos. Tenho grande esperança de que minha cidade adotiva, onde me eduquei, vivo e a ela sirvo, tenha futuro melhor.

*Nestor de Oliveira
Jornalista