“O Transtorno do Espectro Autista (TEA) representa uma alteração no neurodesenvolvimento que vem desde a infância, causando impacto na comunicação e interação social. O indivíduo afetado tende a ter comportamentos restritos e repetitivos em diversas esferas da vida”, diz o psiquiatra Mateus Abreu. No Brasil, há uma ausência de dados oficiais sobre o autismo e um dos últimos estudos é de 2010. Naquela época, um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que o país tinha aproximadamente 2 milhões de pessoas com a condição.
No ano passado, a startup Genial Care, em parceria com a Tismoo.me, realizaram o estudo “Retratos do Autismo no Brasil em 2023”, com o objetivo de colher mais dados sobre pessoas autistas e suas famílias. Foi considerada uma estimativa mais atual de 6 milhões de pessoas com TEA no país, feita com base em dados do Center for Disease Control and Prevention (CDC) mostrando que uma em cada 36 pessoas está no espectro do autismo nos Estados Unidos.
Abreu explica que é importante dizer que o transtorno se apresenta de maneira única em cada pessoa, variando amplamente seus sintomas e gravidade. “Os sinais podem ser percebidos já nos primeiros anos de vida, manifestando-se de maneiras diversas, como atrasos na fala (não balbuciar), falta de contato visual, sem atenção à mãe quando ela se afasta, ou mostrando pouco interesse às interações sociais”.
A causa exata do autismo permanece desconhecida, mas evidências científicas apontam que não há uma circunstância única e sim a interação de fatores genéticos derivados da mãe e do pai. “Existem 3 níveis possíveis do transtorno e isso varia de acordo com a fase de dependência e/ou necessidade de suporte que a pessoa precisa para suas atividades. No nível um de suporte pode ter dificuldades para se comunicar, mas não impede suas interações. Já nos outros dois níveis, o indivíduo vai necessitar de mais apoio em suas atividades básicas, tende a se isolar caso não estimuladas, apresenta maior problema para interagir pelos poucos recursos comunicativos e uma cognição reduzida”, esclarece o médico.
Ele relata que o tratamento envolve uma equipe multiprofissional. “As abordagens buscam reduzir a rigidez no pensamento dos indivíduos e fornecer recursos para melhorar sua comunicação e interação social. Quanto mais precoce a intervenção, maior é a chance de melhorar a forma como essa pessoa interage com o mundo. Muitas vezes é necessário a junção de médicos, psicólogos, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, assistente terapêutico, dentre outros. Com tais intervenções, os pacientes apresentam uma evolução significativa, maior funcionalidade e qualidade de vida”.
Alguns indivíduos vão precisar de suporte ao longo de toda a vida, avalia o psiquiatra. “No entanto, muitos autistas vão estabelecer família, trabalhar, estudar, se divertir, lidando com as dificuldades que o transtorno impõe. O tratamento pode ser tão efetivo a ponto de o nível reduzir e se tornar indetectável a depender do caso”.
Estatísticas
Das pessoas respondentes do estudo “Retratos do Autismo no Brasil em 2023”, 65% se identifica como gênero feminino, maioria com faixa etária entre 25 e 34 anos (33%). Sobre as condições de saúde mental e física e do dia a dia das pessoas autistas, 49,33% afirmam que possuem alguma doença crônica ou secundária que foi identificada junto ao diagnóstico de TEA, e 50% dizem não ter acesso a recursos e suportes adequados para as suas necessidades autistas.
De acordo com Abreu, “existe uma relação bem definida entre autismo e quadros de ansiedade e depressão. O tratamento adequado reduz a chance de desenvolver essas patologias que devem ser tratadas sempre que estiverem presentes”.
Sobre os cuidadores, dentre as três principais dificuldades citadas estão: sentir segurança quando pensa no futuro a longo prazo da criança (79%), dificuldades financeiras para arcar com os custos do tratamento (73%) e encontrar tempo para descanso e para cuidar de si mesmo (68%).
“A sociedade vem aumentando o conhecimento sobre o tema e deixando de lado estigmas errados formados ao longo do tempo. Ainda falta muito para o conhecimento ser difundido em todas as esferas, mas acredito que a capacitação de profissionais da área da saúde e professores sobre o tema seja um obstáculo a ser vencido. Além disso, é fundamental trazer informações de qualidade nos meios de comunicação e trabalhar em políticas de inclusão”, conclui Abreu.
