Um estudo da Casa Civil e dos ministérios do Desenvolvimento Regional, das Cidades, da Ciência e Tecnologia, de Minas e Energia e do Meio Ambiente do governo federal mostrou que 1.942 municípios do país possuem parte de sua população vivendo em áreas de risco. O levantamento aponta para cerca de 8,9 milhões de pessoas morando nessas regiões de maior vulnerabilidade.
Entre 1991 e 2022, o relatório apontou o registro de 23.611 ocorrências de desastres naturais em todo país. Os episódios levaram a 3.890 mortes e 8.226.314 desalojados ou desabrigados. Em Minas Gerais, o documento mostrou 283 municípios com zonas de risco maior de desastres naturais, fazendo com que o Estado fique em primeiro lugar no ranking nacional. Em Belo Horizonte, existem 389.218 pessoas vivendo em locais vulneráveis, o que corresponde a 17,1% da população.
O professor do Departamento de Urbanismo da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Rogério Palhares, esclarece que isso acontece devido à precariedade de grande parte das condições de moradia nas cidades. “O acesso à área urbana com boa infraestrutura nas metrópoles é só para quem pode pagar. Sobra para a população de baixa renda os locais onde o mercado não atua, como áreas inundáveis e encostas íngremes. Na ausência de programas governamentais que facilite o acesso à terra, a população acaba vivendo em áreas sujeitas a risco geológico, sem saneamento e com edificações inseguras”.
Ele afirma que Belo Horizonte não tem estrutura para receber grandes quantidades de chuva. “A cidade não lidou bem com essa questão, canalizou os cursos d’água e interferiu de forma muito radical nesse ciclo. Além disso, os problemas foram sendo empurrados para as áreas mais baixas, seja o esgoto não tratado ou o lixo não coletado”.
“Com o alto volume de água e sem espaço suficiente para escoar, visto que os rios estão canalizados e não conseguem acomodar essas vazões maiores, as enchentes acabam acontecendo. As cidades têm tratado muito mal os rios urbanos, os córregos, mas também as áreas vegetadas, sendo progressivamente suprimidas”, diz Palhares.
Para o professor, algumas ações podem ser tomadas para que o problema seja reduzido. “É preciso adaptar a cidade para mitigar os impactos das enchentes e deslizamentos, como construir muros de arrimo e revegetar áreas onde a vegetação foi suprimida. Quanto mais os cursos d’água estiverem visíveis, mais a população entende o efeito dessa impermeabilização nos rios da cidade”.
Palhares finaliza ressaltando que o poder público deve fazer a sua parte nos espaços comunitários. “Por que tem que asfaltar tudo? Em vez disso, pode-se usar um material mais permeável. As áreas de estacionamento também não devem ser totalmente áridas e impermeáveis, pois elas são coletores de água. É necessário investir nas tecnologias chamadas de soluções baseadas na natureza ou infraestrutura verde”.