Home > Geral > Matrículas na educação infantil avançam, mas ainda existe grande déficit nas vagas

Matrículas na educação infantil avançam, mas ainda existe grande déficit nas vagas

Foram registrados 4,1 milhões de alunos nas creches – Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

Segundo o Censo Escolar 2023, o número de crianças matriculadas em creches subiu para mais de 4,1 milhões no ano passado, se comparado com 2021, que registrou 3,4 milhões. Conforme o órgão, existem no país boas chances de atingir as metas previstas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), no que se refere a matrículas de jovens na educação infantil. No caso das creches, o intuito é que o total de matrículas chegue a 50% da população com idade até 3 anos, que de acordo com o Ministério da Educação (MEC), seria algo em torno de 5 milhões.

A educadora Jacqueline Caixeta afirma que esse índice está longe de atingir toda a demanda. “Temos, atualmente, um grande número de famílias de baixa renda que necessitam de creches para deixar os filhos e conseguir ir para o trabalho. Muitas delas, em vulnerabilidade social, acabam pagando alguém da própria comunidade, incluindo pessoas sem experiência, para ficarem com os pequenos, o que coloca os jovens em situações de risco em todos os sentidos”.

Já o sociólogo, professor de educação básica e analista educacional da Unniversa, Flávio Pimenta, explica que em números absolutos, ocorreu um grande avanço quanto ao acolhimento destas crianças. “Houve um crescimento de 42,3% de matrículas em 10 anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e isso é muito significativo, pois foram criadas 1.224.945 vagas nas creches”.

“Porém, apenas 35,5% das crianças brasileiras na faixa etária entre 0 e 3 anos são atendidas, existindo um déficit de 64,5% das vagas, onde aproximadamente 7,5 milhões de crianças ainda não são beneficiadas pelo atendimento educacional na primeira etapa da infância. A meta do PNE, que prevê o atendimento de 50%, é um objetivo muito difícil de ser alcançado”, acrescenta.

Já no recorte da pré-escola, o Censo mostra um total de 5,3 milhões de alunos matriculados. Segundo o MEC, esse dado aponta para a universalização do atendimento educacional na faixa etária de 4 e 5 anos estabelecida pela Constituição Federal.

Os números da pré-escola são mais consistentes em relação às creches, segundo Pimenta. “Das 5.922.271 crianças de 4 a 5 anos, 5.338.282 estavam matriculadas nesse período, estes índices significam que 90,1% dos alunos frequentam a pré-escola. O PNE prevê como meta a universalização, intuito também difícil de ser realizado. Contudo, a educação, como política pública, vem avançando a passos largos e faz projetos a curto, médio e longo prazo”.

Melhorias

No entendimento de Pimenta, a educação infantil precisa de mais investimento.
“Mesmo com o avanço na criação de vagas nos últimos 10 anos, precisamos também
de um maior diálogo e um melhor planejamento por parte do governo federal, dos
Estados e das prefeituras, para identificar as localidades com as maiores necessidades
e traçar métodos para se conseguir a universalização”.
“Nosso modelo político descentralizado, muitas vezes embarca em disputas
políticas inúteis, fazendo com que serviços públicos essenciais, como a educação, não
atendam os cidadãos em sua totalidade. Uma das medidas que dificulta a implantação
de novas escolas e vagas é o Teto dos Gastos Públicos, que limitou os investimentos
nas áreas de saúde e educação por 20 anos”, comenta.

Minas Gerais

Segundo o sociólogo, a situação de Minas é muito semelhante à conjuntura da educação infantil brasileira. “Em 2023, 35,2% das crianças estavam matriculadas em creches, tendo um déficit de 64,8% do recorte populacional. Quanto à pré-escola, das 535.808 crianças com 4 ou 5 anos, 498.721 estavam matriculadas, representando um déficit de apenas 6,9%”.

Para Pimenta, Minas Gerais tem o obstáculo de ter muitas cidades pequenas, diversas com menos de 10 mil habitantes. “Gerando impasses em um planejamento mais apurado e na distribuição de recursos. Os municípios menores têm baixa arrecadação de impostos, dependendo exclusivamente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), dificultando ainda mais o investimento em educação”.

“Cidades maiores, com arrecadação e população superiores, como Belo Horizonte, Contagem, Betim, Uberlândia e Juiz de Fora, apresentam indicadores mais consistentes e convivem com déficits de vagas ou matrículas mais amenizados”, finaliza.