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Quase nove milhões de jovens não concluíram o ensino médio

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

 

Dados do último Censo Escolar, divulgado pelo Ministério da Educação e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelaram que o ensino médio, última etapa da educação básica possui as maiores taxas de evasão (5,9%) e de repetência (3,9%).

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8,8 milhões de cidadãos de 18 a 29 anos não terminaram o ensino médio e não frequentam nenhuma instituição de educação básica.

Para discutir o assunto, o Edição do Brasil conversou com o mestre em Educação e professor titular de Sociologia da Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), João Valdir Alves de Souza.

 

Quais são os motivos que levam o aluno a deixar de frequentar a escola?

Existem elementos de ordem objetiva e subjetiva. No domínio objetivo, o fator mais apontado é a necessidade de precisar trabalhar para garantir a sobrevivência, sendo que a pessoa não consegue compatibilizar as duas coisas e opta por deixar de frequentar a escola. Na questão subjetiva, podemos citar a falta de motivação e de um impulso que aponte para um futuro melhor a partir do nível de escolaridade.

 

O ensino médio registrou 3,9% de repetência. Como é possível manter os estudantes interessados?

Nos acostumamos a falar em valorizar a educação, mas esse é um discurso pouco internalizado como prática. Enquanto não entendermos o fato de que educação é algo que somente se faz com muito trabalho, disciplina, compromisso, método e, por vezes, até sacrifício, haverá pouco avanço a respeito do tema. A tarefa da escola e do professor é levar os alunos a se interessarem por coisas pelas quais eles não despertariam o interesse por conta própria. E isso pode ser muito trabalhoso e exigir esforço de ambas as partes.

 

Quais são as consequências para quem não concluiu os estudos?

“Educação básica” ou “escolarização básica” é um conceito recente em nosso país, que está sendo construído a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e diz respeito ao mínimo ao qual todos devem ter acesso por direito. Se com apenas a educação básica as pessoas estão pouco preparadas para os grandes desafios da vida social, tanto em termos de empregabilidade quanto em termos de vivência cidadã, sem essa etapa concluída o preparo é ainda mais rudimentar.

 

O governo federal lançou o Programa Pé-de-Meia. De que forma iniciativas como essa ajudam na redução da estatística de evasão escolar?

Todo incentivo financeiro é importante, quando o assunto é a necessidade imediata da sobrevivência do estudante. Contudo, se não vier acompanhado de uma mudança cultural no que se refere à nossa relação com a escola, teremos pouco a comemorar no futuro. É preciso combinar o incentivo financeiro com a mudança no discurso sobre valorização da educação escolar, ou seja, reforçar que a educação é uma prática social que exige muito trabalho e dedicação.