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Dificuldade feminina de atingir orgasmo pode ter motivações mentais ou físicas

Se falar sobre sexo já é um tabu, aprofundar sobre as dificuldades individuais desse tema são ainda mais. Um levantamento nacional com 3 mil entrevistados, do Projeto Sexualidade (ProSex) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, expõe um retrato das diferenças entre homens e mulheres quando o assunto é sexualidade. Chama a atenção que, entre elas, a dificuldade para alcançar o orgasmo, de forma leve à grave, afeta quase metade das entrevistadas (43%). Em Belo Horizonte, 51% delas enfrentam esse problema. Muitas dessas brasileiras (32,5%) também sentem dificuldades em se interessar por sexo. Sobre esses dados, o Edição do Brasil conversou com a ginecologista do Hospital Felício Rocho, Valéria Campos.

Quais são as principais queixas das mulheres sobre sexo?
Diminuição do desejo sexual; dificuldade em atingir o orgasmo; dor na relação sexual, que pode ter algumas variações, como a dispareunia, ou seja, incômodo durante ou após o coito. Também temos o vaginismo, que é a dificuldade acentuada, persistente e recorrente à penetração, decorrente da contração involuntária da musculatura vaginal; e a vulvodínia, uma queimação na vulva sem causa aparente. Além das questões emocionais.

Quais seriam as questões emocionais relacionadas?
Existem uma série de fatores. Tanto no âmbito físico, mas, principalmente, no âmbito emocional, que podem estar envolvidos na falta do orgasmo. Alguns são a ausência total ou parcial das preliminares, o que inclui beijos, abraços, carícias em todo o corpo, mas, principalmente, na área genital e nas regiões mais erógenas da parceira. Sexo por obrigação; cansaço físico e emocional; preocupação excessiva, por exemplo, com trabalho, estudos, filhos e outros; depressão; estresse; transtornos de ansiedade; alterações hormonais das mais variadas naturezas; doenças neurológicas; educação muito rigorosa; religiosidade e, é claro, a insatisfação com o relacionamento.

É possível que o problema não esteja na pessoa, mas no relacionamento dela?
Para se ter uma boa resposta sexual, que culmine no prazer máximo ou orgasmo, o casal precisa estar entrosado, haver preliminares, com estimulação dos principais pontos de prazer da mulher que, normalmente, é o clitóris. No entanto, pode ser em qualquer parte do seu corpo que, quando tocada ou acariciada, desencadeia uma série de sinapses nervosas com liberação dos neurotransmissores do prazer. Então, tanto problemas físicos como de relacionamento podem estar na origem dos problemas do orgasmo.

Isso pode acometer mulheres de qualquer idade?
A alteração orgásmica pode acometer as mulheres em qualquer idade, devido às diversidades de causas, mas é uma queixa bem frequente no período do climatério, na pré e pós-menopausa. A intensidade pode ir avançando após o fim da menstruação. Entretanto, a falta de libido e de desejo são queixas que vão se tornando cada vez mais frequentes.

A quais sinais a mulher precisa estar atenta?
Caso ela nunca tenha chegado ao orgasmo, nem por meio de uma relação sexual nem por masturbação, é algo que merece uma atenção. Se a falta do orgasmo incomoda também é indicativo de que ela precisa procurar cuidados médicos. Se a paciente perdeu a vontade de fazer sexo, porém, quando faz, sente-se satisfeita ou enojada? No caso de nojo, é necessário auxílio médico. A falta de orgasmo é uma constante? Se sim, também merece atenção médica. Está em uso de alguma medicação que possa alterar a resposta sexual? Como está o nível de sua atração pelo seu parceiro? Ela o acha atraente? Sente desejo por ele? Todos esses questionamentos são pertinentes quando a falta de prazer se torna algo que incomoda a mulher.

Quais são as dicas para que a mulher atinja o orgasmo?
O orgasmo faz parte de uma resposta sexual adequada. A mulher precisa conhecer seu corpo, órgãos genitais, regiões do corpo que lhe dão prazer e do parceiro, pois dar prazer para alguém pode ser prazeroso. Também é importante discutir com o parceiro sobre a rotina, o relacionamento do casal observar os fatores que limitam a intimidade do casal, e tentar resolver essas questões. Achar os pontos positivos e negativos de uma relação sexual e, se necessário, tentar modificá-los e praticar a masturbação como forma de autoconhecimento e prazer.