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Grama sintética gera debate no futebol brasileiro e mundial

Foto: Freepik.com

Há tempos o futebol brasileiro se envolve nessa discussão. E tudo começou em 2016, quando o Athletico Paranaense adotou o gramado sintético na Arena da Baixada. Naquela época, com mais de 80% de aproveitamento nos jogos disputados em casa, o time garantiu vaga na Copa Libertadores do ano seguinte. O desempenho incomodou e um movimento entre os clubes para que todos os gramados da série A fossem naturais teve início. No entanto, na reunião do Conselho Técnico de Clubes, em fevereiro de 2018, o clube paranaense conseguiu a adesão de outros times participantes do Brasileirão e garantiu votos suficientes para que a grama sintética fosse aceita.

Atualmente, há mais dois gramados sintéticos no país. No Allianz Parque, o Palmeiras mudou o piso em 2020 e, na primeira temporada, teve aproveitamento superior a 70% em casa, faturando os títulos estadual e o da Copa Libertadores. Este ano, a mudança aconteceu no estádio Nilton Santos, casa do Botafogo. O Alvinegro carioca venceu todos os adversários em casa, no primeiro turno do Brasileirão, o que lhe deu uma vantagem inédita na liderança do campeonato.

Mas além da disparidade de desempenho em casa dos times que adotaram o gramado sintético, duas outras questões são debatidas: o jogador fica mais suscetível à lesão? E por que as principais ligas europeias não permitem o gramado sintético em seus jogos? Vale ressaltar que a Federação Internacional de Futebol (Fifa), responsável por regular o futebol no mundo, até autoriza jogos em grama artificial, mas nas competições organizadas pela entidade, o gramado precisa ser, no mínimo, 90% natural.

O fisioterapeuta Renato Lacerda diz que em campos de grama sintética o impacto nas articulações pode ser maior. “Jogadores já relataram que a bola corre mais rápido, o que acaba exigindo mais esforço dos atletas. Um estudo publicado pela revista científica Sports Medicine, em 2011, mostra que há maior incidência de contusões no tornozelo e de lesões consideradas graves em esportes praticados em grama sintética”.

Na opinião de Lacerda, para diminuir as chances de lesões, os jogadores teriam que adequar o treinamento ao piso em que jogarão a partida oficial. “O problema é que nem todos os estádios e nem todos os times possuem centros de treinamento com a grama sintética. Eles praticam na natural e, quando chegam na competição, são obrigados a jogarem em uma superfície diferente. É necessário chegar a uma alternativa que possa ser viável para os atletas e para o estádio”.

A tecnologia tem sido a arma mais utilizada pelos clubes para fazer de seus estádios arenas multiuso sem prejuízo ao campo de futebol. O Schalke 04 (Alemanha) foi o primeiro a inovar, apresentando um gramado que desliza para fora do estádio, que é coberto, para receber a luz do sol. A novidade também foi adotada pelo Saporo Dome (Japão). Na Inglaterra, o Tottenham guarda o gramado no subsolo e, com isso, consegue receber jogos da Liga de Futebol Americano (NFL) em um piso sintético. O novo estádio do Real Madrid (Espanha) também resguarda a grama natural para realizar show no Santiago Bernabéu.

O Maracanã adota a grama híbrida. Em tese, o campo possui 90% de gramado natural e 10% de fibras sintéticas, mas esse percentual varia de acordo com o crescimento da grama. No processo de mudança do piso, foram colocados 30 centímetros de areia e neles foram plantados os estolões (tipo de caule) de grama natural, da variedade Bermuda Celebration (espécie com tolerância a ser pisoteada e rápida regeneração). Após 50 dias de adubação, irrigação e corte, com o campo já todo verde, uma máquina holandesa foi adquirida para “costurar” o gramado. As 180 agulhas injetaram a fibra sintética, a cada 2 cm de extensão e a 18 cm de profundidade, o que garante mais resistência ao campo.

Para a arquiteta Natália Costa, essa alternativa pode ser mais prática. “A grama sintética tem uma maior duração em casos de shows no estádio, porém, possui certa resistência dos profissionais do futebol, além de que pode apresentar um desconforto térmico em dias mais quentes. O gramado híbrido tem como características positivas menos danos após jogos e eventos e melhora na drenagem, pois as fibras sintéticas auxiliam o escoamento da água. Sendo híbrido ou natural, é necessário que haja cuidado e manutenção sempre”.