Foi o acaso que levou Alisson Ferreira, 28, a subir numa fita de, aproximadamente, 5 cm de largura, esticada entre um ponto e outro, nas alturas e tentar se equilibrar. Mas foi com dedicação que, 9 anos depois, o atleta, de Ribeirão das Neves, coleciona o título de campeão do mundo na Alemanha e no Torneio de Tóquio, no Japão, ambos conquistados no ano passado. Agora, pelo terceiro ano consecutivo, Ferreira organiza, na cidade, o campeonato internacional de slackline, o “Neves Slack Cup”, evento que está em sua 3ª edição.
A competição reúne os maiores nomes do esporte que desafiam os limites da gravidade que, além de brasileiros, vai receber americanos, argentinos, chilenos, peruanos e um coreano. “É o campeonato mais completo que existe no país hoje com atletas de vários lugares do Brasil e o balanço tem sido muito positivo. Isso nos motiva a continuar fazendo a competição todo ano”, avalia Ferreira.
Toda essa visibilidade é fruto de um processo que começou há 3 anos. “Realizar um campeonato nacional em Ribeirão das Neves era um grande sonho e, em 2017, por meio de um amigo que escreve editais para projetos, me inscrevi para organizar um campeonato na cidade e conseguimos ser contemplados com o edital da secretaria estadual”, conta.
De lá para cá, o atleta investiu no sonho e fundou o grupo Neves na Fita, com o objetivo de popularizar o esporte na região e formar novos atletas, em especial aqueles que buscam uma nova perspectiva de vida. Em parceria com a Cidade dos Meninos, lar que atende jovens carentes de Belo Horizonte e região metropolitana, criou o primeiro Centro de Treinamento de slackline coberto de Minas Gerais.
Em troca pelo espaço, o atleta oferece oficinas do esporte para estudantes da instituição. E os benefícios da prática são variados. Entre eles, Ferreira destaca o trabalho com a mente. “Equilíbrio, concentração e foco. Realizo trabalho com crianças que, por exemplo, têm dificuldade de focar na leitura de um livro e o slackline trabalha isso, em como concentrar sem ser interrompido por qualquer barulho exterior. Nesse ano, acompanhamos a melhora de vários alunos nesse sentido”, comemora.
Em sua experiência pessoal, o atleta colheu benefícios que nem estavam nos planos. “Antigamente, eu pisava torto e o médico me disse que se não pisasse reto até os 21 anos, ficaria torto para sempre. Comecei no slackline aos 19 anos, quando fui perceber, com 22, estava pisando reto porque para andar na fita a pisada precisa ser reta. Então de tanto praticar, acabei consertando isso”, conta bem-humorado.
Hoje, apesar de ter patrocínio de uma marca alemã, é dando aulas que o atleta se mantém. “Vivo do esporte, dando aulas no Centro de Treinamento, que é o único centro especializado em slackline do Brasil e o maior do mundo. Também faço apresentações em eventos”, explica o professor de cerca de 60 alunos.
Para 2020, a expectativa é que a cena do esporte em Ribeirão das Neves cresça ainda mais. “Quero que o Neves Slack Cup se torne a maior referência na área. Hoje, o Brasil juntamente com o Japão é uma potência do slackline, muitos atletas vêm para cá aprender manobras com os brasileiros”, informa.