Até o próximo dia 20 de novembro, o espetáculo infantojuvenil “Azul”, da Artesanal Cia. de Teatro, poderá ser assistido no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Belo Horizonte. A narrativa é transmitida através dos olhos de Violeta, uma menina de quatro anos, que está ansiosa pela chegada de seu irmãozinho, Azul, uma criança com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O que ela não imagina, é que ele acabará ocupando um espaço inesperado na vida da família. Entre os ciúmes e a aceitação de um irmão tão diferente, Violeta descobre que é preciso aprender a lidar com o que a vida propõe para a solução natural dos conflitos. Afinal, o amor entre os irmãos é maior do que qualquer diferença que possa existir entre eles.
Um dos atores do espetáculo é o Tatá Oliveira, que faz um personagem que está em todas as fases da peça, causando curiosidade no público: o tempo. “A nossa abordagem é pensar que o tempo é um só. Na verdade, é o mesmo para todo mundo. O que muda é o jeito como aproveitamos ou desperdiçamos o tempo”.
Oliveira conta que a peça contribui para uma representatividade e também uma oportunidade para entender sobre o autismo. “Durante uma apresentação, tinha um menino autista que começou a chorar e a mãe saiu com ele da sala. Nos questionamos se ele não havia gostado. Quando fomos tirar uma foto, ele disse que não queria que a peça acabasse porque ele se via representado ali. É importante entender sobre o tema, acolher essas pessoas, e o espetáculo ‘Azul’ tem uma contribuição singular nesse sentido”.
A peça contou com a consultoria da Cris Muñoz, pesquisadora no tema e mãe de uma filha autista. Oliveira destaca que essa ajuda foi muito importante. “Ela colaborou, de certa maneira, na dramaturgia, porque nos ensaios, a gente mostrava e ela falava o que poderia ser melhorado. A Cris tinha o lugar de fala para poder trazer mais informações e relevância para as nossas escolhas dentro do espetáculo. Trouxe um olhar muito sensível sobre as questões do autismo e do nosso trabalho”.
Desafios para os neurodivergentes
Cris Muñoz fala sobre algumas barreiras que impedem as pessoas neurodivergentes de frequentar espaços culturais. “O que mais existe são os desafios, porque o capacitismo é estrutural, assim como outros preconceitos. A acessibilidade sensorial, por exemplo, que é própria para pessoas neurodivergentes, principalmente autistas, ninguém pensa nela. Estamos falando de uma luz específica, linguagem dramatúrgica e visual, cores, sons, cheiros e texturas. Tudo isso interfere diretamente na experiência sensorial de pessoas autistas. São barreiras de acessibilidade que precisam ser rompidas”.
Ela aponta caminhos para melhorar a acessibilidade das pessoas neurotípicas aos espaços culturais. “Acho que tem que ter sempre uma sala de regulação sensorial, uma equipe capacitada, sabendo o que é o autismo e como os portadores se comportam. É necessária uma divulgação interna para o público que já frequenta, para que naturalize a presença dessas pessoas e para que elas sejam respeitadas”.