Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), para cada ano do triênio de 2023 a 2025, o Brasil pode contabilizar mais de 45.630 novos casos de câncer colorretal, correspondendo a um risco estimado de 21,10 ocorrências por 100 mil habitantes. Sendo a mulher com probabilidade de mais episódios, 23.660, e os homens com 21.970.
Ainda de acordo com o Inca, sem considerar os tumores de pele não melanoma, esse tipo de câncer ocupa a terceira posição entre os mais frequentes no país. As maiores taxas de incidência são observadas na região Sudeste (28,62 casos por 100 mil), seguido pelo Sul (26,89 por 100 mil), Centro-Oeste (17,25 por 100 mil), Nordeste (10,99 por 100 mil) e Norte (7,05 por 100 mil).
O coloproctologista da Unimed-BH, Bruno Giusti Werneck, afirma que o câncer colorretal abrange os tumores que acometem o intestino grosso e o reto. “A patologia está relacionada a fatores genéticos e existem doenças que podem aumentar o risco, como as inflamatórias do intestino, e também causas socioeconômicas, como estilo de vida sedentário, tabagismo, excesso de bebida alcoólica, consumo exagerado de alimentos ultraprocessados e industrializados com conservantes, embutidos e carnes vermelhas”.
O médico destaca que a enfermidade se desenvolve sem qualquer sintoma. “É preciso rastrear o câncer ou as lesões que vão se transformar em tumor maligno, antes do paciente ter alguma manifestação. Quando a lesão começa a crescer, a pessoa pode ter sangramento intestinal, perda de peso, dor abdominal, indícios de obstrução do intestino, que são sinais mais tardios, e finalmente, a anemia”.
Tratamento e prevenção
Werneck explica que o tratamento do câncer de intestino evoluiu muito. “Hoje pode variar tanto através do procedimento endoscópico, pela própria colonoscopia nos casos de lesões mais precoces, quanto a quimioterapia e a radioterapia. A técnica escolhida é a mais adequada para cada paciente e a maioria das pessoas diagnosticadas com a enfermidade são curadas”.
Ele pontua também que o cuidado é extremamente importante. “O paciente ter hábitos saudáveis, tomar bastante líquido e praticar atividades físicas. Isso é o que chamamos de prevenção primária. E no caso da secundária, são necessárias intervenções para evitar o câncer. Tem a pesquisa de sangue oculto nas fezes que deve ser feita na população acima de 45 anos, mesmo sem nenhum sintoma, tanto o homem quanto a mulher, ou a colonoscopia que também começa aos 45 anos”.
Casos na América Latina
Um estudo realizado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) do Inca e da Universidade da Califórnia San Diego mostrou que, entre 1990 e 2019, a mortalidade por câncer colorretal na América Latina cresceu 20,5%. Na maioria dos países da região, incluindo o Brasil, a tendência é de aumento.
Conforme a Fiocruz, o crescimento da mortalidade na América Latina vai no sentido oposto da tendência global, que tem sido de queda da taxa, resultado influenciado pelos países de alta renda. A pesquisa relacionou os dados ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e confirmou que existe uma ligação entre as tendências de mortalidade por câncer colorretal e o desenvolvimento socioeconômico das nações latino-americanas.
Em nota, um dos autores do estudo, Raphael Guimarães, do Departamento de Ciências Sociais da Ensp/Fiocruz, observa que a desigualdade entre os países é tão gritante, que, existem alguns, como o Uruguai e a Argentina, caminhando para um declínio da mortalidade. “Apesar do alto consumo de carne vermelha, eles conseguem diagnosticar e tratar em tempo oportuno, evitando mortes. Nas nações da América Central, por exemplo, o cenário é diferente, a alimentação tem menos risco, mas há subdiagnóstico e pouco acesso ao tratamento”.