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Cada brasileiro joga fora 60 quilos por ano de alimentos bons para o consumo

Brasil integra o top 10 dos países que mais desperdiçam comida – Foto: Freepik.com

Cerca de 60 quilos de alimentos bons para o consumo, em média, é descartado por cada cidadão brasileiro, anualmente, conforme estudo elaborado pela MindMiners em parceria com a Nestlé. A pesquisa revela ainda que o Brasil integra o top 10 dos países que mais desperdiçam comida em todo o mundo. São mais de R$ 1,3 bilhão em frutas, legumes e verduras que vão para o lixo todos os anos nos supermercados.

Dentro das residências, o tipo de alimento que mais se joga fora é a comida preparada (40%), seguida pelos industrializados (18%) e legumes e verduras (16%). Para debater mais sobre o tema, o Edição do Brasil conversou com Rita de Cássia Ribeiro, doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa e professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Qual é o impacto desses números na sociedade brasileira?
Esses dados afetam negativamente a nossa população, tendo em vista a situação social do país, onde a fome atinge 33 milhões de pessoas, conforme números da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN) de 2022. Do ponto de vista ambiental, representam um descaso com os recursos naturais mobilizados para a produção destes ingredientes em vão, que não cumpriram o seu propósito.

Sob o aspecto econômico, os desperdícios financeiros que são empregados em toda a cadeia produtiva. Em sua opinião, quais medidas do poder público seriam necessárias para melhorar esse índice?
Os governantes não devem poupar esforços para cumprir as políticas públicas voltadas para o desenvolvimento de tecnologias, para minimizar as perdas entre a colheita e a chegada dos alimentos nos postos de vendas. Além disso, promover o pequeno produtor garante a oferta e consumo de produtos regionais, de boa qualidade, com menor impacto ao meio ambiente. A pesquisa destacou que 50% do desperdício acontece no manuseio e transporte. Quais aspectos as empresas precisam mudar para gerar menos perda? É fundamental que todos os atores envolvidos neste processo, bem como o poder público, invistam no desenvolvimento de tecnologias que garantam a integridade dos alimentos do campo à mesa, com maquinário, treinamento especializado, embalagens e condições de transportes e distribuição adequados para tornar os processos mais eficientes e eficazes.

Quais ações a sociedade pode fazer para não ter desperdício dentro de casa?
No âmbito doméstico, ao se pensar na compra de alimentos, é fundamental o planejamento prévio dos itens e das quantidades. Deve-se elaborar a lista com base no que vai ser produzido em casa, bem como nas quantidades suficientes para atender a família, evitando ao máximo as sobras. Os alimentos são produtos altamente perecíveis e devem ser comprados em um prazo menor, e por isso sugere-se a compra semanal, e o estoque mínimo nas residências. Se possível, devemos priorizar os pequenos produtores, próximos de nós, o que garantirá o transporte e a entrega em um curto período. Outra ação passa pelo uso integral da comida durante o seu preparo. Devemos utilizar as cascas, talos e sementes nas diferentes preparações culinárias.

Tem como reverter o desperdício dos alimentos em ações para combater a fome no país?
O médico e sociólogo pernambucano Josué de Castro escreveu, na década de 1940, que a fome era um fenômeno político, fruto das ações dos homens e de suas decisões na condução econômica do país. Ou seja, o problema é muito mais complexo. Porém, o Brasil possui diversos mecanismos para combater essa diversidade, como a promoção da segurança alimentar e nutricional, os quais precisam ser fomentados e, constantemente, avaliados e aperfeiçoados.

Você acredita, analisando o cenário atual, que o desperdício tende a diminuir nos próximos anos?
Isso será possível se houver o compromisso e a ação conjunta do poder público, dos produtores de alimentos e da sociedade civil. O desperdício de alimentos precisa ser amplamente discutido, e este tema deve servir de base nos processos de educação, especialmente entre crianças e jovens.