Intervenções devem acontecer no Córrego Cercadinho
Belo Horizonte possui hoje 20 bacias de detenção de águas pluviais prontas ou em construção. Outras 14 ainda estão sendo planejadas. Três delas podem ser feitas na bacia do Córrego Cercadinho, região Oeste da capital mineira. Essas intervenções foram debatidas em audiência pública na Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Durante a sessão, o presidente da Associação de Moradores do bairro Estoril, Maurício Paceli Machado, lembrou que foi feita uma visita técnica de servidores da Prefeitura de Belo Horizonte e da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) junto com um vereador e moradores da região em julho de 2022. “Ficamos sabendo que iriam construir uma bacia de detenção entre a rua Professor Duque e a Avenida Sebastião Nascimento para conter as enchentes da Avenida Teresa Cristina e também fazer uma ponte ligando as comunidades dos bairros Estoril, Havaí, Estrela Dalva e Nova Barroca. Esta ponte, que foi aprovada no Orçamento Participativo de 2011, deveria estar pronta há anos. Agora, querem colocar que uma coisa depende da outra”, afirma Machado.
Ele revela ainda que foi realizada uma nova reunião na sede da Sudecap e foi garantido que as comunidades seriam ouvidas na elaboração do projeto, mas aconteceu o contrário. “Nunca mais houve outra e soubemos recentemente que os projetos já estão prontos. Sem a participação da comunidade”.
Sobre o andamento do projeto da bacia de detenção, a diretora de planejamento de empreendedorismo da Sudecap, Tricia Mota, informou que a proposta da obra, realizada em 2017, não teve prosseguimento dentro do órgão. “O projeto da bacia de detenção no Córrego Cercadinho e a urbanização de vias do entorno foi concluído antes da revisão do plano diretor de 2019. Além disso, não foi licenciado por falta de recursos”.
Tricia disse que, no momento, estão acontecendo sondagens para ter um melhor conhecimento da região antes de ser feita alguma intervenção. “Contratamos estudos e projetos para fazer uma análise de todo o Cercadinho, das suas nascentes até o Ribeirão Arrudas. A previsão é de junho do ano que vem esteja concluída. A gente está buscando compreender o comportamento das águas e entender a dinâmica e a hidrologia a fim de entender o alagamento na confluência do Cercadinho com o Arrudas, que é um problema recorrente. Nesse estudo já houve a sinalização da necessidade de retenção de águas. O princípio desse projeto é o tratamento do fundo de vale e a renaturalização das margens”.
A representante da Sudecap ainda reforçou que o projeto da bacia de detenção na região pode passar por atualizações. “Nada impede que seja revisado, para até mesmo ter um volume menor do que o previsto em 2017”, conclui.
Críticas ao projeto
A geógrafa e coordenadora do Subcomitê da Bacia Hidrográfica do Ribeirão Arrudas, Márcia Rodrigues Marques, argumenta que uma das áreas de alagamento de uma das bacias que devem ser feitas no Cercadinho, fica em um trecho com mata ciliar. “A vegetação já cumpre a sua função e a construção de uma bacia se faz inútil. A mata já protege das enchentes, porque é uma área de infiltração das águas e ajuda a reter o lixo e outros sedimentos. A questão é porque tirar uma mata para implantar uma bacia de detenção”.
Ela ainda explica que o grande problema das inundações é a canalização dos córregos e a impermeabilização do solo. “Com isso, acontece as enchentes, como no cruzamento entre a Rua Engenheiro Carlos Goulart e a Avenida Professor Mário Werneck, no bairro Estoril. Onde existe uma planície de inundação foi tomada por construções e o córrego canalizado. Isso significa que não é um problema do córrego, nós é que estamos ocupando uma área indevida dentro da bacia do Cercadinho”.