A partir de agora, o debate sobre a privatização das empresas do governo mineiro irá pautar grande parte do noticiário político, pois a tese referente ao aludido tema está implícita nas mensagens enviadas ao Parlamento, cuja autoria do projeto coube ao próprio governador Romeu Zema (Novo). Na verdade, há um disfarce nessa história. O chefe do Executivo ambiciona retirar da Constituição Estadual a obrigatoriedade de realizar um plebiscito popular e ouvir a opinião do povo sobre a venda das ações da Cemig. A partir dessa concepção, o caminho para o leilão da firma estaria a um passo do ponto de vista prático.
A diretora-geral da Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Esgotamento Sanitário (Arsae-MG) e ex-deputada estadual, Laura Serrano, em longo artigo publicado na semana passada, defende as privatizações como um ato público moderno, conectado com os tempos atuais. Ela é categórica ao dizer que, nos últimos anos, o mundo testemunhou uma tendência crescente de privatizações do setor de infraestrutura, como saneamento e energia elétrica.
Mas a ilustre articulista não completou a informação. Em países desenvolvidos, o setor de energia é tido e preservado como estratégico, ficando inclusive, como no caso dos Estados Unidos, sob os olhares das Forças Armadas, para evitar a intercorrência de atos que possam representar desassossego para a população.
O engenheiro e ex-presidente da Eletrobras, Aloísio Vasconcelos, em sua odisseia para convencer lideranças contra a venda da Cemig, destaca que a companhia sempre registrou lucro ao longo dos anos. E os rendimentos, em muitas ocasiões, foram de grande valia para minimizar os efeitos negativos do combalido caixa do tesouro estadual. Para além disso, avizinha-se o momento de um embate entre os interesses do governo e a sociedade civil. Com certeza, haverá briga de cachorro grande, pois desfazer da empresa considerada uma das mais importantes do país na geração e distribuição de energia não é empreitada simples.