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Queijo do Vale do Jequitinhonha vira patrimônio cultural e imaterial

A iguaria é produzida artesanalmente por 160 famílias da região – Foto: Daniel Arantes

O queijo Cabacinha, tradicional no Vale do Jequitinhonha, se tornou patrimônio cultural e imaterial mineiro. De acordo com levantamento da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), 160 famílias produzem o alimento, de forma artesanal, em nove cidades da região: Cachoeira de Pajeú, Comercinho, Divisópolis, Itaobim, Jequitinhonha, Joaíma, Medina, Pedra Azul e Ponto dos Volantes.

O produto recebe esse nome devido ao formato, semelhante a uma cabaça, denominação popular para o fruto milenar muito utilizado em artesanatos. Segundo a assessora técnica da Diretoria de Agroindústria e Cooperativismo da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), Viviane Neri, a produção do Cabacinha nesta região remete a meados do século 20 e sua origem cultural ainda é estudada. “Ele é reconhecido pelo Estado desde 2014, quando foi publicada a primeira portaria de identificação do Vale do Jequitinhonha como tradicionalmente produtora deste queijo”, explica.

Luziane Dias de Oliveira, coordenadora técnica regional da Emater, afirma que o título de patrimônio cultural e imaterial traz mais visibilidade e notoriedade. “É a valorização e reconhecimento da riqueza cultural da região caracterizada como produtora da tradição, dos saberes e das técnicas empregados no processo de fabricação do nosso produto”.

A coordenadora destaca que o queijo Cabacinha tem uma grande importância socioeconômica para a comunidade local. “Além da sua relevância para a cultura mineira, a produção dessa iguaria gera emprego e renda no meio rural, contribuindo com o desenvolvimento da região, já que a principal fonte de renda da localidade é a pecuária de corte e leite. No caso dos produtores, que em sua maioria são de pequeno e médio porte, o preço pago pelo leite é baixo e a fabricação de queijos é uma forma de agregar valor ao produto”.

Luziane pontua ainda que a Emater presta assistência técnica aos produtores em toda a cadeia produtiva, orientando na adoção de boas práticas agropecuárias e de fabricação. “Além de assessorar no processo de adequação das queijarias à legislação vigente, com vistas à formalização do empreendimento. Recentemente, os extensionistas dos municípios produtores foram treinados por pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) para coletas de amostras para a realização da pesquisa que subsidiará a elaboração do Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade”.

Tradição

Itamar Mauricio Gomes, do município de Medina, relata que a tradição vem de berço. “Sou um pequeno produtor rural, filho de produtor. Há muito tempo, meus pais produziam requeijão, o que ficou muito dispendioso, pois, exigia muita mão de obra. Eles pararam de produzir esse produto e começaram a fabricar queijo. Hoje, temos meu pai, eu e mais quatro irmãos produzindo Cabacinha”, afirma.

Ao lado da esposa e das filhas, o agricultor produz desde o leite até o queijo. “Tenho uma média diária de 150 litros de leite e faço de 30 a 40 Cabacinhas por dia, com 450 a 480 gramas cada. Vendemos aqui mesmo, na cidade, onde temos uma feirinha da agricultura, uma vez por semana”, diz.

Estudos

Desde 2021, a Epamig coordena pesquisas, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que irão subsidiar a caracterização do queijo Cabacinha. Também são de competência da empresa estudos sobre o consumo seguro desses produtos. No momento, esses trabalhos científicos se encontram em fase de acompanhamento dos processos de fabricação, análises sensoriais e entrevistas com mestres queijeiros e comerciantes.

“Existem produtores com queijarias bem avançadas em infraestrutura para a garantia da qualidade, atendendo já às boas práticas
de fabricação, e produtores que ainda possuem uma infraestrutura precária. Mas, a gente acredita que isso é parecido com o que aconteceu nas outras regiões que passaram pelo processo de caracterização e regulamentação e que todos eles, independente da estrutura física, têm um domínio muito grande dos fatores de produção”, relatou o pesquisador da Epamig e coordenador do projeto, Daniel Arantes.