A toada do presidente do Banco Central (BC) tem sido justificada como uma questão da taxa de juros Selic em 13,75%. Ele ressalta que ela está no patamar atual para segurar a inflação do país que, por mais que esteja em algo próximo de 5% em 12 meses, ainda não é o momento para baixar os juros. Faz questão de justificar os motivos que levaram a autoridade monetária a aumentar a Selic no ano passado, em pleno período eleitoral, impediram a inflação de estar, hoje, na casa dos dois dígitos, caso não fizessem esse antídoto. Vale destacar que juros e inflação caminham de forma em que um ajuda e se sobrepõe ao outro e vice-versa.
Por mais que o Boletim Focus do BC publique dados e informações do mercado sobre o cenário econômico brasileiro atual, assim como as projeções futuras tenham especulado inflação a 6% e juros a 12,5% no fim do ano, a sua posição mostra que o cenário poderia estar pior, caso o BC não tomasse as devidas ações para coibir um crescimento mais explosivo dos indicadores.
A grande questão neste debate sobre a taxa de juros vai além do combate à inflação, pois muitas empresas e setores da economia estão, hoje, com dificuldades nos empréstimos e nos parcelamentos, diante da Selic em dois dígitos. Por mais que a medida seja técnica, ela afeta diretamente o bolso do consumidor e o faturamento dos empreendimentos.
O atual presidente do país, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pleiteia os juros baixos para movimentar o consumo, mas o BC salienta que essa medida pode provocar um efeito igual ou parecido com o da Argentina, que está com uma inflação bem alta e descontrolada, ou ainda da Turquia, que vive um aumento da pobreza no país. Temos que nos lembrar que o BC é uma instituição autônoma do governo, com o presidente tendo mandato. Ou seja, o chefe do Executivo nacional pode palpitar, mas a decisão final cabe ao líder da autoridade monetária, que pode causar uma queda de braço, como acontece no momento atual.
Entre os especialistas ainda há dúvidas sobre até onde vai esse bom desempenho da economia. Por isso, a importância do governo não criar percalços para a atividade. De suma relevância a votação do projeto do novo arcabouço fiscal, com a expectativa que dará conforto aos investidores de que não haverá estrepolias no caixa do Tesouro Nacional. Agora, é trabalhar para que a reforma tributária seja, finalmente, levada adiante, para que o ambiente de negócios ganhe novo fôlego e segmentos, como a indústria, reencontrem o caminho do crescimento.
Não adianta o governo acreditar em um pacote de crédito com medidas de incentivo ao consumo, como fez no passado, porque a realidade é outra. As famílias estão mais endividadas e esse tipo de medida tem efeito de curto prazo. Uma das medidas para reverter este quadro de baixo crescimento é estimular o empresariado a investir, criando melhores condições de produção no país. A consequência é a geração de mais emprego e renda, gerando mais capacidade, consumo e, consequentemente, mais produção. É o chamado círculo virtuoso da economia. Precisamos de um plano estratégico bem elaborado e de longo prazo. Mas o que vemos é que está difícil chegarmos a este ponto. Até agora, o governo ainda está perdido, sem saber para onde vai.
O passado está aí para mostrar que, quando o populismo se sobrepõe ao técnico, a fatura é enorme e a maior parcela dela recai sobre os mais pobres, as grandes vítimas do processo inflacionário. Consumidores, empresários e investidores parecem dispostos a dar um voto de confiança. As pesquisas de intenção de compras apontam maior apetite em relação aos meses que virão. Há também maior disposição para a retirada de projetos de investimentos da gaveta. A Bolsa de Valores voltou aos 110 mil pontos e o dólar permanece sendo negociado abaixo de R$ 5, contribuindo para revisão abaixo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Podemos, ao menos, afirmar que, do ponto de vista econômico, o retrato que está disposto não é tão feio quanto parece. Pelo contrário, com cautela, sem comemoração exagerada, espera-se pelos novos passos. E com dedos cruzados.