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Futebol e Mineirão: uma exceção

Quem não se lembra daquele Mineirão antes da reforma para a Copa do Mundo de 2014. Grandes jogos, palco de inúmeras decisões e títulos de Atlético e Cruzeiro. Um estádio emblemático, cheio de histórias e que com o passar dos anos, ganhou em modernidade e conforto para os torcedores, mas em contrapartida perdeu a sua grande função: servir ao futebol mineiro.

Parece estranho, mas temos um estádio moderno com capacidade para mais de 60 mil torcedores, porém que de uns anos para cá, tem servido mais para shows musicais do que para o futebol. Tanto Atlético quanto Cruzeiro têm travado brigas nos bastidores para ter o Mineirão disponível para seus jogos. A empresa Minas Arena, responsável pela administração do estádio, se baseia nos contratos firmados com o governo do Estado para realizar os eventos culturais, shows musicais e simplesmente deixa o futebol em segundo plano.

O ápice deste imbróglio entre os clubes mineiros, Minas Arena e Governo do Estado culminou na realização de um jogo do Cruzeiro válido pelo Campeonato Brasileiro contra a equipe do Cuiabá ser disputado em Sete Lagoas, na Arena do Jacaré, com um gramado de péssima qualidade prejudicando o espetáculo e desvalorizando o produto futebol. Sem falar do Atlético que em jogos da Libertadores foi obrigado a jogar num gramado muito ruim e foi até multado pela Conmebol pela péssima qualidade do que deveria ser um exemplo num estádio de futebol: o seu gramado. O Cruzeiro sofreu também com o gramado péssimo na partida de volta da Copa do Brasil contra o Grêmio.

Quem presenciou títulos e mais títulos de Cruzeiro e Atlético, além de jogos memoráveis entre as duas equipes, vive seu maior período sem um clássico desde a reinauguração.

O último jogo entre Raposa e Galo no Gigante da Pampulha aconteceu no dia 2 de abril do ano passado, para 55 mil pessoas, com arquibancadas meio a meio. De lá para cá, os clubes se revezaram, mas não puderam disputar nenhum clássico. Mais uma vez os dois maiores clubes de Minas foram obrigados a jogar em Uberlândia, no triângulo mineiro, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. O Mineirão já estava ocupado para a realização de show musical.

O hiato já supera um ano, o maior período sem jogos entre os clubes mineiros há dez anos. Além disso, essa “seca de jogos” pode ficar ainda maior, aumentando para dois anos se não houver nenhuma mudança para os próximos confrontos.

A verdade é que as condições impostas pela Minas Arena são péssimas tanto para Cruzeiro quanto Atlético. E a empresa administradora do estádio não realiza a devida manutenção no gramado. Não é que eu seja contra os eventos culturais no Gigante da Pampulha. Porém, não se pode simplesmente priorizar os grandes espetáculos e esquecer que o estádio foi construído com dinheiro público para abrigar jogos de futebol. Imagino não haver outra saída que não seja aparar as divergências, ceder cada um de um lado, e tocar a vida juntos, de modo que haja uma relação saudável, benéfica para todos os envolvidos. Afinal, o futebol mineiro merece um palco à altura de suas tradições.