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Número de demissões voluntárias chega a mais de 30% no Brasil

Foram 2,9 milhões de demissões voluntárias entre os meses de janeiro a maio deste ano / Foto : Freepik.com

Pesquisas recentes mostram que o Brasil passa por um fenômeno conhecido como “the great resignation” (a grande renúncia em português) e que consiste, basicamente, em um grande número de trabalhadores pedindo conta em seus empregos. Foram 2,9 milhões de demissões voluntárias entre janeiro a maio deste ano, um aumento de 32,5% em relação ao mesmo período de 2021. Essa modalidade representou 33,4% de todos os desligamentos registrados nesses 5 meses.

Os dados são da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Previdência. Eles revelam que um em cada três rompimentos do contrato de trabalho aconteceu por iniciativa do funcionário. O movimento mundial ganhou relevância a partir da pandemia de COVID-19, com a escassez de insumos para produção, paralisação das atividades, altas taxas de desemprego e a introdução e difusão do trabalho remoto.

Os profissionais com mais anos de estudo apresentam níveis de demissão mais altos. 48,2% dos desligamentos voluntários envolvem pessoas com nível superior, incluindo graduados, mestres e doutores, frente a 25,4% no grupo com ensino fundamental incompleto.

Do total de rescisões, os homens foram responsáveis por 57,3% dos pedidos, contra 42,7% de mulheres. Mas os números, segundo a pesquisa, mostram-se diferentes quando são analisados os desligamentos por gênero e escolaridade: 37,6% das mulheres com maior escolaridade contra 30,6% dos homens.

Os profissionais jovens possuem maior propensão a deixar o emprego por conta própria quando comparados com os mais velhos: 39,4% de jovens até 17 anos; entre 18 e 24 anos, 38,5%; e entre 25 a 29 anos, 36%; e apenas 23,5% entre 50 e 64 anos.

Conforme os dados analisados do Caged, as profissões da área de Tecnologia da Informação (TI) se destacam com a maior proporção de pedidos de desligamento nos primeiros 5 meses do ano.

Seis das 10 ocupações no topo do ranking são dessa área: engenheiro de aplicativos em computação, analista de desenvolvimento de sistemas, administrador em segurança da informação, programador de sistema de informação, engenheiro de sistemas operacionais em computação e gerente de projetos de tecnologia da informação.

Para o CEO de uma empresa de tecnologia para recrutamento e seleção, Márcio Monson, esse movimento pode ser identificado como uma migração de pessoas para outros propósitos. “O Brasil vem experimentando esse fenômeno, principalmente a partir de 2021, segundo ano de pandemia. A crise sanitária gerou uma mudança de hábitos, trouxe incertezas, medos e fomentou reflexões. Por esse motivo, quando as pessoas começaram a retornar ao trabalho presencial ou híbrido, vieram algumas decisões por rupturas e alterar estilos de vida. Podemos observar que os indivíduos estão cada vez mais preocupados em estar em um ambiente que tenha uma cultura organizacional sólida e acolhedora, consequentemente, fazendo com que ele esteja mais feliz”.

Pode parecer contraditório que, mesmo com o grande número de desempregados no Brasil, as resignações continuem acontecendo, mas Monson ressalta que não é apenas o salário o principal motivo dos desligamentos. “Podem ser desde culturas tóxicas nas empresas, excesso de pressão, insegurança e até a falta de reconhecimento profissional. Cada vez mais costumam ser razões como essas – e menos aquelas ligadas ao salário, por exemplo – que motivam as renúncias”.

Segundo o CEO, as organizações precisam estar preparadas e perceber que a cultura organizacional deve existir não somente no papel, mas na prática e a transformar em uma conduta cada vez mais acolhedora e humana. “Precisam treinar e desenvolver suas lideranças, incluir benefícios ligados à aprendizagem e identificar como tornar as vagas que oferecem não só atraentes do ponto de vista da empregabilidade, mas também da satisfação que proporcionam ao profissional. Além disso, é importante enxergar essas pessoas como elas querem ser vistas. Entender as dores dos funcionários e trabalhar para que elas sejam sanadas”.

A designer gráfica Rafaela Ribeiro pediu demissão de seu emprego em uma agência de publicidade no início de 2022, pois estava se sentindo incomodada com sua rotina e achava desgastante, passando por muito estresse e cobrança. “Acreditei que seria melhor para minha saúde física e mental fazer isso, recebia mensagens e ligações de trabalho até nos finais de semana, além do ritmo absurdo de tarefas com muitas exigências. Eu não estava bem e até chorava antes de trabalhar”.

Hoje, ela faz cursos para se especializar mais na área e procura emprego em empresas que apresentam melhores condições de trabalho e, enquanto isso, faz freelas para ter uma renda extra. “É instável, pois você não sabe quanto receberá em cada mês, mas digo que estou bem melhor de saúde e feliz. Me sinto pronta para trabalhar em uma empresa de novo, porém, uma que apresente outra dinâmica organizacional e que valorize mais os funcionários”.