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Busca por padrão de beleza pode afetar negativamente corpo e mente

Com essa visão distorcida da realidade, o indivíduo acaba desenvolvendo quadro de sofrimento psicológico / Foto: iStock

Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), em 2020, o Brasil foi o país em que mais se realizou procedimentos cirúrgicos na face e na cabeça. Foram 483,8 mil durante o período de um ano. Com 143 mil registros, a cirurgia de pálpebra (blefaroplastia) foi a mais realizada, seguida pela rinoplastia, com 87,9 mil. Nos anos de 2018 e 2019, o país ocupou o primeiro lugar no ranking de países que mais realizou cirurgias plásticas no mundo, superando inclusive os Estados Unidos.

De acordo com a psicóloga especialista em saúde mental, Simone Alípio, a cultura, a mídia e a moda interferem na formação da autoimagem. “Elas podem direta e indiretamente estimular que as pessoas tenham que se adequar aos padrões de beleza construídos como ideais. Com isso, os indivíduos fazem comparações sociais negativas e acabam criando expectativas irreais e uma visão pessimista de si mesmo”.

Ela explica que essa inadequação pode trazer consequências, como distúrbios psicopatológicos que afetam a vida do usuário, além de visões negativas de si, baixa autoestima, insatisfação e infelicidade, acompanhados de patologias como ansiedade, depressão, transtorno obsessivo compulsivo e de compulsão alimentar, como bulimia e anorexia.

A psicóloga destaca que quem sofre de transtorno de imagem, além da ajuda profissional, necessita do apoio de familiares e pessoas próximas. “É importante trabalhar as crenças negativas para que o indivíduo se aceite como é e entenda os gatilhos emocionais na tentativa de ressignificá-los”.

A percepção alterada da própria aparência leva à dismorfia corporal, que faz com que a pessoa se incomode com defeitos imaginários ou triviais. A nutricionista Daniela Nazaré Cotrim diz que os Transtornos Alimentares (TAs) mais estudados são a anorexia, a bulimia e o transtorno da compulsão. “Embora apresentem algumas características em comum, a psicopatologia alimentar pode variar de acordo com cada TA. Portanto, esses comportamentos alterados devem ser identificados para que o tratamento seja realizado adequadamente”.

Daniela relata que são várias as razões sociais, psicológicas e biológicas que levam alguém a desenvolver comportamentos alimentares disfuncionais. “Para entender melhor os motivos desse problema, podemos citar como as principais causas dos transtornos, distorções da imagem corporal, desejo de se enquadrar nos padrões sociais, ação da serotonina no cérebro, entre outros. Eles podem ser causados também por traumas de infância, como abusos sofridos no passado, restrição alimentar provocada por dificuldades financeiras ou excesso de comida imposto pelos pais, mediante o discurso de que nada poderia restar no prato”.

Ela salienta que os sintomas dependem de cada transtorno alimentar, por isso, é importante estar atento às mudanças físicas e de comportamento do portador, mas alguns podem ser percebidos na maioria dos casos. “Comer de forma extrema (quantidades mínimas ou excessivas), receio exagerado de ganhar peso e possuir uma autoimagem corporal que difere da realidade”.

Os manuais para manejo dos TAs recomendam que o tratamento seja realizado por profissionais especializados e de diferentes áreas, incluindo nutricionista, psicólogo e psiquiatra.

Em seu livro biográfico Out of the Corner: A Memoir, lançado em maio deste ano, a atriz Jennifer Grey conta que, após seu papel no filme “Dirty Dancing” famoso em 1987, decidiu fazer uma cirurgia no nariz por sugestão de sua mãe para que conseguisse mais papeis futuramente, o que aconteceu. A atriz acabou sendo escalada para vários outros filmes até que, em 1992, nas filmagens do longa Wind – A Força dos Ventos, o diretor de fotografia do filme notou um pedaço de cartilagem saindo da ponta de seu nariz.

Após realizar uma segunda cirurgia para reparação, Jennifer relatou ter ficado irreconhecível e ter perdido a conexão física com sua identidade judaica, fazendo com que o público em geral não a reconhecesse mais. No livro, a atriz disse ter sido um momento muito difícil, onde não conseguia mais papéis e foi forçada a entender quem ela era e o quanto valia, sem precisar da aprovação de outros.