Em 2022, o consumo de carne bovina chegou ao menor nível em 26 anos no Brasil, segundo as projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Durante o ano, a oferta per capita no país tem sido de cerca de 24,8 kg. De acordo com o estudo, a maior proporção registrada foi em 2006, quando havia uma disponibilidade de 42,8 kg de carne bovina por pessoa. Em 1996, quando a série histórica de estimativas começou, era de 38,7 kg, portanto a atual é 36% menor.
A oferta de carne de boi está caindo desde 2018 e, durante a pandemia, ficou abaixo de 30 kg anuais pela primeira vez desde que começou a ser mensurada no país. Em 2020, chegou a 27,7 kg, tendo um pequeno aumento para 27,8 kg em 2021 e, agora, caiu de novo.
Enquanto o consumo de bovinos é o menor em décadas, o mercado de suínos tem redução de preços e aumento na procura. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a carne de porco registrou queda de 5,2% nos últimos 12 meses, considerando os dados mais recentes da instituição, que são de junho deste ano.
Atualmente, ela é avaliada como a mais barata dos 18 principais tipos disponíveis de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação do país. Em contrapartida, a pesquisa do IBGE mostra que alguns cortes bovinos ficaram mais caros, como o contrafilé (11,12%) e a alcatra (9,2%). Já a de frango aumentou acima da inflação geral, por exemplo, o frango inteiro ficou 16,18% mais oneroso.
Com a queda dos preços e a consequente alta no consumo, a projeção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) é de 18 kg por pessoa, alta próxima a 8%, já que, em 2021, foi registrado aproximadamente 16,7 kg per capita pela instituição. A estimativa é que a produção anual de carne, incluindo a suína e a de aves, alcance a casa de 28 milhões de toneladas neste ano. Assim, o setor bovino bateu mais um recorde negativo com produção estimada em 8,1 milhões de toneladas até o fim de 2022, a menor em 20 anos.
O consumo de carnes em geral no país também caiu em 2022 e chegou ao menor patamar desde 2010. Hoje, a oferta é de, em média, 90,9 kg, em 2021, foram 95,1 kg. Em 2010, ela foi de 93,9 kg. A ingestão de carne suína é o único em crescimento e atingiu o maior nível desde o início do acompanhamento, com oferta de 17,5 kg.
Fernando Oliveira, que é dono de um açougue na região Noroeste de Belo Horizonte diz que sentiu o movimento cair desde o começo do ano. “O cenário já não era dos melhores e, com a pandemia, piorou, pois foi uma luta para conseguir manter o negócio. Contudo, em 2022 a situação parece estar ainda pior”.
Ele conta que percebeu não apenas o movimento menor, mas também as quantidades compradas. “Eu tinha clientes que mandavam encomendas para o mês inteiro, então a venda era grande, mas, hoje, muitos têm adquirido em porções menores e para alguns dias”.
O vendedor Marcelo Linhares expõe que em sua casa o consumo da carne bovina caiu se comparado a outros anos. “Ultimamente, o preço da carne está muito caro, então a substituímos pela suína, frango ou ovo, porque fica mais em conta, principalmente depois da pandemia. Virou quase um artigo de luxo comprar mensalmente, sendo assim, vou adquirindo aos poucos para consumo até uma semana”