Há anos, o mercado de entretenimento nota que as produções geek estão em franca expansão. Só a franquia Harry Potter arrecadou mais de US$ 21 bilhões em todo o mundo. Outro exemplo são os lançamentos da Marvel Studios que, apenas com filmes de super-heróis, já ultrapassaram a marca de US$ 30 bilhões.
Estima-se que apenas a receita ligada ao setor de licenciamentos no país alcance R$ 20 bilhões anualmente. Dados da Associação de Cartunistas do Brasil (ACB) apontam que o mercado de quadrinhos mobiliza cerca de 20 milhões de leitores ao mês. Dentro desse universo, estão os jogos eletrônicos, consumidos por 73,4% dos brasileiros e que alcançaram US$ 123,3 bilhões mundialmente em 2020, segundo números da Game Brasil.
Uma análise feita pela Rakuten Digital Commerce mostrou que os amantes do universo nerd costumam gastar 40% a mais do que a média nacional. Essa é uma prova que o setor é relevante para a economia brasileira e mundial. “Ser geek é um estilo de vida. Sendo assim, o consumo desse público é maior justamente porque o número de produtos ofertados é mais amplo, visto que quase sua totalidade é atraída pelos personagens da indústria do cinema”, destaca o economista Mathias Naganuma.
Sócio-proprietário de uma loja de HQs em Belo Horizonte, o empresário Anderson Almeida, ressalta que todas as campanhas de marketing feitas para os geeks acabaram alcançando o público em geral. “O cinema é muito relevante nisso, com os filmes de super- -heróis, por exemplo. O volume de publicação de mangás também cresceu. Além de toda a oferta de produtos para quem gosta desse tipo de entretenimento, como camisas, brinquedos, jogos, etc”.
Ele acrescenta que a fidelidade dos clientes é percebida em sua loja. “Nosso cenário, principalmente, no que se refere às vendas foi até melhor do que imaginávamos. Ficamos 7 meses de portas fechadas, trabalhando exclusivamente on-line. Após a reabertura, o retorno do público foi imediato. Vimos muita gente nova e pessoas buscando lugares para ir. Para 2022, nossa expectativa é expandir. Sabemos que a pandemia não acabou, mas seguimos positivos”.
Para Naganuma, essa ampliação seguirá, especialmente, porque o consumo do público geek advém da memória afetiva das pessoas. “Em um futuro não muito distante, teremos um mercado ainda maior de objetos dos super-heróis. Um exemplo são os gibis do Mickey e sua turma da década de 1990 ou ainda os mais raros de 1950. Isso mostra que a nostalgia está sempre presente nesse segmento”.
Consumidor ativo do universo geek, o professor de matemática Hadespil Assis conta que, para além do entretenimento, esse mundo oferece opções distintas, como o estímulo para criação de conteúdo ou mesmo temas para abordagens em sala de aula. “Fora que proporciona um ambiente que me permite socializar, compartilhar ideias, debater e me divertir”.
Para ele, esse público faz parte de uma geração que cresceu consumindo apenas visualmente e, por vezes, só teve condição de adquirir produtos na juventude e fase adulta. “A facilidade com a qual se deu o acesso cresceu facilitando a diversidade, o que amplia nosso leque. Por fim, ao longo dos últimos anos, a mídia tem se mostrado muito mais aberta e flexível. Dessa maneira, o conteúdo que era consumido antigamente de forma restrita foi aberto ao público, popularizando e, automaticamente, aumentando o número de fãs”
Preconceito ficou para trás
No passado, segundo o diretor de growth marketing, Eduardo Endo, ser geek ou nerd era sinônimo de vergonha. “Hoje, vivemos num mundo mais diverso e virar a noite jogando games, ficar em casa arriscando jogos de tabuleiro, ler mangá e se identificar com a cultura pop deixou de ser estranho e se tornou legal”. Ele acrescenta que esse mercado não se restringe ao público infantil, mas também aos adultos de todas as idades.
Endo acredita no crescimento do ramo para os próximos anos. “Países como Japão e os EUA, que tem esse cenário mais consolidado, estão à frente de nós. Eles se movem a eventos, criando uma cultura que ainda é copiada pelo Brasil. Contudo, estamos nos consolidando em uma velocidade acelerada, o que mostra uma franca expansão e muitas oportunidades. Obviamente, como qualquer setor, é preciso conhecer o assunto para investir”.