Dados de uma pesquisa da Euromonitor mostram que o mercado vegano está em expansão. O motivo disso, porém, é curioso: o setor está sendo impulsionado pelos flexitarianos, grupo que não é nem vegano, nem vegetariano, mas que tenta ter um consumo de carne menor, aumentando a proteína vegetal e evitando cosméticos testados em animais.
De acordo com a pesquisa, cerca de 42% do consumo de produtos à base de plantas é proveniente dos flexitarianos. Enquanto que os veganos representam 4% desse grupo e os vegetarianos 6%. Uma análise da Inteligência em Pesquisa e Consultoria aponta que 46% dos brasileiros deixaram de comer carne por conta própria pelo menos uma vez na semana.
Segundo dados do Ministério da Economia, em 10 anos, o número de empresas abertas com o termo “vegano” cresceu mais de 500%. Em todo o mundo, esse mercado que em 2020 era avaliado em US$ 19,7 bilhões irá crescer e alcançar a casa dos US$ 36,3 bilhões em 2030, conforme um estudo da Allied Market Research.
A gerente de campanhas e projetos da Sociedade Vegetariana Brasileira, Mônica Buava, explica que o veganismo não é um destino final, mas uma trajetória. “No meio desse caminho, foi colocado alguns termos, principalmente para ajudar nas pesquisas. Flexitariano ou reducionista são aquelas pessoas dispostas a diminuírem seu consumo de carne e derivados. Metade da população já se enquadra nesse perfil. E, mais do que isso, 70% dos brasileiros encaram a diminuição como algo positivo”.
Para ela, inúmeras análises mostram que o principal motivo para as pessoas descobrirem novos sabores ao reduzirem o consumo de carne é a saúde. “Uma alimentação baseada em vegetais traz fatores protetores para a nossa saúde, ajuda no controle de peso, diminui o risco de diabetes, infartos e outras doenças cardiovasculares, além de auxiliar na redução de alguns tipos de cânceres, como o de intestino grosso, que é o terceiro mais incidente na população brasileira”.
O crescimento do mercado impulsionado pelos flexitarianos é importante para todos. “Os reducionistas são os grandes aliados para o mercado vegano prosperar e crescer. Por exemplo, 70% da clientela de restaurantes veganos é de flexitarianos. Esse grupo acaba fomentando esse mercado, ajudando assim os próprios veganos, uma vez que aumenta a oferta desses produtos e a acessibilidade a eles”.
A psicóloga Camilla Pacheco, vegana há 7 anos, nota que o mercado tem crescido. “Qualquer redução no consumo de carne por parte da população, para mim, é uma vitória. Quando me tornei vegana, era difícil encontrar produtos específicos. Além disso, tudo era muito caro e inacessível. Hoje, observo que esses produtos estão mais comuns, tendo, inclusive, sessões próprias em supermercados. Além disso, a todo momento surge uma nova marca com essa proposta. Um ótimo incentivo e um acalento ao nosso estilo de vida”.
O sócio-fundador e diretor do Açougue Vegano, Celso Fortes, atribui esse crescimento à mudança de hábitos da sociedade, que tem buscado uma forma consciente de se alimentar. “Esse tipo de alimento passou a ser mais procurado, inclusive, cerca de 58% dos nossos clientes não são veganos e, na verdade, são curiosos gastronômicos que também gostam de saborear pratos sem a proteína animal. Hoje entendemos que essa comida também pode ser gostosa”.
Segundo ele, os produtos que mais vendem são: a coxinha de jaca, produzida com massa de batata e recheada com jaca verde refogada; feijoada vegana, produzida à base de feijão preto, linguiça calabresa de soja defumada, arroz integral, couve mineira e farofa gourmet; e o espetinho misto, feito com carne de soja e linguiça calabresa de soja defumada. “Esse aumento na demanda abriu novas oportunidades de mercado. Fomos a primeira rede de alimentos exclusivamente veganos a entrar em grandes eventos de música, como o Lollapalooza e também estaremos presente no Rock In Rio. Para 2022, a expectativa é faturar R$ 7 milhões e abrir mais 15 lojas”.