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O medo de ser uma fraude: saiba mais sobre a síndrome do impostor

Pessoa acometida acredita não ser boa o suficiente | Foto: Reprodução/Internet

Você já se sentiu não merecedor de algo bom que aconteceu na sua vida? Esse é um dos principais sintomas da síndrome do impostor. Apesar de pouco falado, trata-se de um quadro comum. Segundo uma análise feita pela Universidade Dominicana da Califórnia, cerca de 70% das pessoas são acometidas pelo problema.

A psicóloga Alessandra Augusto explica que “síndrome é um conjunto de sinais e sintomas, não é uma doença e nem um transtorno. Já a palavra impostor é uma tendência que o indivíduo tem da falta de conhecimento do outro e usa isso para tentar enganar, ou seja, é um mentiroso que se coloca em um lugar que não é devido. Juntando os dois, temos uma pessoa que tem a sensação de não merecer estar onde está. Ela pode até ser capaz, mas acredita que aquele lugar não lhe é merecido”.

A síndrome do impostor pode mudar o comportamento de uma pessoa, segundo Alessandra. “Ela irá se empenhar mais do que as outras, vai passar do seu horário de trabalho, evitar estar em reuniões ou de se pronunciar por ter a sensação de não prover de todo o conhecimento do cargo que ocupa. É possível ver esse comportamento em relacionamentos, no qual a pessoa não acredita na sua competência de estar com alguém. Ela coloca em dúvida se o outro a ama e se está no relacionamento porque quer. E nos laços sociais e de amizade tende a pensar que só tem amigos por interesse. É uma forma de autossabotagem”.

A psicóloga clínica Meire Cassini elucida que a pessoa acometida tem percepções alteradas sobre si, o que afeta suas relações. “Isso acarreta em isolamentos, ou seja, o indivíduo não participa dos movimentos sociais e profissionais, não contribui com seus pensamentos e opiniões sempre por considerar menos importante e que os outros são sempre melhores”.

Ela ressalta que essa situação impacta na sua autoimagem e autoestima. “O que acaba proporcionando sentimentos de menos- -valia, podendo ainda, apresentar quadros de adoecimento mental, como estresse exacerbado, ansiedade e depressão, o que somando a tudo isso, teria comprometimento na qualidade de vida e bem-estar geral”.

A hair stylist Laura Bessa comenta que percebeu que tinha algo de errado após o questionamento de uma amiga. “Estava em uma fase cheia de projetos no meu salão e eles estavam dando certo, era visível. Mas, eu sempre queria mais, não por ambição, mas por desespero, o que era exaustivo. Um dia uma amiga perguntou: ‘Você já notou que não consegue assumir que é boa? ’. Tinha dito para ela que, apesar de tudo, ainda me sentia insegura. Parei para refletir e vi que, mesmo com todas as minhas clientes satisfeitas, me achava uma fraude”.

Laura acabou decidindo por buscar ajuda com uma psicóloga para compreender melhor os motivos disso. “Com o tempo, fui vendo o tanto que o estresse e o cansaço estavam atrelados à essa percepção de não ser boa. Busquei formas de praticar o autoconhecimento e caminhada para mudar essa ideia, afinal, estudei, pratiquei e, hoje, tenho meu espaço, minhas clientes e vivo do meu próprio trabalho. Foi minha luta e aprendi que mereço brindar todas as minhas vitórias”.

Meire afirma que o caminho que Laura seguiu é um dos mais eficazes. “É importante que a pessoa tome consciência de que algo a está afetando. Ela precisa reconhecer e buscar mudanças. Neste sentido, é interessante que ela lembre que é um processo e não algo que irá se alterar de um dia para o outro. É necessário refletir os aspectos cognitivos e comportamentais, nos quais a pessoa vai assimilando de forma confortável para si mesma”.

Ela cita algumas práticas que podem ajudar. “Comece aceitando elogios, reconhecendo suas conquistas, desde as pequenas até as grandes e também a de outras pessoas. Procure valorizar seus pontos fortes, se houver feedbacks dos outros, esteja atento aos pontos positivos. Tente não ser tão exigente consigo mesmo na comparação com o outro, busque fazer o melhor e entender que fez o possível. Faça pausas nas preocupações focando em coisas que não têm nada a ver com o seu trabalho”.

Por fim, Meire destaca que o autoconhecimento se torna importante nessa jornada. “O processo de mudança ocorre para cada pessoa de uma forma e a seu tempo, e faz parte da vida de todos nós. Se no decorrer entender que precisa de ajuda, apoio ou direcionamento, busque auxílio profissional”.