Para os matemáticos da política mineira, a jogada do Palácio do Planalto em abrir mais espaço para o senador Carlos Viana (PL) no que se refere à sucessão estadual, foi um tema que dominou o cenário político nos bastidores durante toda a semana.
Essa decisão pode, inclusive, mudar o embate sucessório até agora protagonizado por Romeu Zema (Novo) e Alexandre Kalil (PSD). Os bolsonaristas, caso apostem no nome de Viana, podem desfigurar as ações políticas desses dois candidatos.
Terceira via
O advogado Mauro Bomfim, especialista em direito eleitoral, diz que “a polarização da eleição nacional entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT) pode trazer a repetição em Minas Gerais do que já foi o ‘Lulécio’”.
Para ele, o eleitor mineiro é pragmático e, com isso, pode acontecer o “Bolsozema”, o “Luzema” ou o “Lulil”. “A grande surpresa de um pleito é a reação do eleitor. A simplicidade permeia a cabeça do brasileiro que quer decidir a eleição logo no primeiro turno. Como na célebre passagem do futebol, envolvendo o diálogo de Garrincha, na Copa da Suécia, na véspera do jogo Brasil e Rússia, após ouvir as táticas do treinador: ‘Só falta combinar com os russos’. Deste modo, é preciso também combinar com o eleitor”, disse.
Bonfim lembrou ainda que o recuo tático de Zema em descolar da candidatura de Bolsonaro deu um alento para a candidatura de Viana, que se filiou ao mesmo partido do presidente e ofereceu o palanque para o candidato presidencial à reeleição.
Segundo o advogado, nesse cenário de uma candidatura colada a Bolsonaro, a de Carlos Viana, e outra grudada ao ex-presidente Lula, a de Kalil, pode ser um fato novo que dividiria em três o peso do eleitorado.
Para Bomfim, desta forma, uma aparente terceira via em Minas pode gerar uma tendência de polarização entre os três candidatos: “Zema, Kalil e Viana, uma vez que, tradicionalmente, aqui, no estado, o governador candidato à reeleição já inicia a disputa com 30% de intenção de votos”, pontuou.
Professor da PUC Minas, cientista político e comentarista, Malco Camargo, analisa o quadro da sucessão estadual em Minas. “Um cenário clássico e que acaba abrindo a possibilidade do surgimento de uma terceira via é quando dois grupos disputam o poder há muito tempo e acabam desgastados”.
Segundo ele, foi assim em Minas na disputa entre PT e PSDB em 2018. “Isso permitiu o surgimento de Zema. Agora, o panorama é bastante distinto, o atual governador é bem avaliado e nunca enfrentou Kalil, que também é novo na política, assim como é nova a disputa com PL e Viana”.
De acordo com ele, neste cenário não se pode falar em terceira via. “Há sim uma fragmentação da concorrência de diferentes alternativas e, neste ano, temos que falar muito na nacionalização. Até que ponto os mineiros irão escolher seus candidatos a partir da situação do estado, ou conforme o apoio dos presidenciáveis?”.