Home > Destaques > Pesquisas apontam que não há mais como evitar os avanços do aquecimento global

Pesquisas apontam que não há mais como evitar os avanços do aquecimento global

Se medidas não forem tomadas, eventos catastróficos como tempestades e queimadas se tornarão cada vez mais comuns | Foto: Pixabay

Em 2018, a Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu um alerta sobre a necessidade de se evitar o aquecimento da Terra em até 20 C entre 2030 e 2052. Algumas medidas foram tomadas, mas não se mostraram suficientes. É o que revela o relatório divulgado pelo próprio órgão, em agosto, informando que não é mais possível limitar o aquecimento global em 1,50 C nos próximos 30 anos.

A pesquisa foi divulgada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), baseada em 14 mil artigos científicos sobre o assunto. Segundo o documento, as alterações no clima e a influência humana sobre esse fenômeno são inquestionáveis. Cada uma das últimas quatro décadas tiveram aumentos significativos de temperatura, índices que são registrados desde 1850. O IPCC alertou ainda que se ações não forem adotadas para redução do dióxido de carbono (CO2) e outros gases que contribuem para o efeito estuda, o aquecimento da Terra de 1,50 C a 20 C será alcançado ainda neste século.

Em entrevista à imprensa, a vice-presidente do IPCC, Thelma Krug, afirma que se nada for feito, vamos presenciar inúmeros efeitos extremos, como ondas intensas de frio e calor, tempestades, queimadas, etc. Todos se tornarão cada vez mais violentos. “O que se espera é que esse relatório faça com que os governos assimilem e tomem as decisões mais apropriadas a respeito da questão”, declarou.

Para a engenheira ambiental Maria Constantino, uma série de fatores nos trouxe aqui. “O que vem sendo cultivado é um planeta de egoísmo, apego, materialismo e consumismo. Tudo isso pensando somente no que vemos, agindo pela própria conveniência e aprisionando uma ambição desmedida e inconsequente. Focamos em um modelo de economia linear, onde extraímos da natureza, transformamos em matéria-prima, fabricamos, distribuímos, consumimos e jogamos fora. Só que o ‘fora’ não existe e o descarte é feito no ar, na terra ou no mar”.

No Brasil, a política ambiental tem sido controvérsia. Pressionado, o presidente Jair Bolsonaro antecipou para 2050 a meta de neutralizar poluentes. Ele prometeu ainda dobrar o orçamento para ações de fiscalizações, com o objetivo de acabar com o desmatamento ilegal até 2030. “O que é contraditório, já que, em mais de 2 anos, o governo promoveu o desmonte das estruturas de fiscalização e controle de desmatamento, protegeu desmatadores, grileiros e garimpeiros ilegais e fez tudo que conseguiu para fomentar uma política antiambiental”, critica o editor-chefe do Instituto Ciência na Rua, Thiago Marconi.

Para o especialista em sustentabilidade, João Carlos Salgueiro de Souza, a cada fração de aumento do aquecimento global, os efeitos deletérios são potencializados. “Estamos em uma linha tênue na qual o tempo está se esgotando e o custo da inação fica cada vez mais alto. Definitivamente iremos vivenciar uma piora das condições de vida e isso acarretará em extrema desigualdade social, pois as populações mais pobres e vulneráveis serão as mais afetadas”.

Marconi acrescenta que estamos colocando em risco uma quantidade enorme de espécies e que isso causa desequilíbrios ecológicos. “Por exemplo, as microalgas que vivem em simbiose com os corais os abandonam conforme a temperatura sobe, o coral perde seu alimento e morre. E, com isso, uma pequena espécie de crustáceo que dependia dele para alimento ou abrigo desaparece. Um tipo de peixe que comia o pequeno crustáceo não encontra mais o alimento e por aí vai. Além disso, as consequências na vida dos humanos tendem a piorar: secas que tornem os alimentos mais caros, inundações em cidades pelo aumento das chuvas fortes, elevação do nível do mar comprometendo locais habitados, etc”.

Maria ressalta ainda que o estilo de vida da nossa sociedade também será afetado se todos continuarem a agir como atualmente. “Se isso persistir, é certo de que o homem acabará destruindo o planeta e a si mesmo. Cada um de nós precisa ser o 1% que a sociedade necessita para que, juntos, consigamos mudar este cenário”.