O arcaico ditado é válido para Jair Bolsonaro e seus escolhidos para altos cargos – geralmente com insolência similar à dele. Listei alguns aliados, sem incluir políticos eleitos em exercício de mandatos e que acumulam benesses em troca de apoio às estapafúrdias ações do presidente: Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação. Subserviente, queria punir com corte de verbas as universidades “ligadas à esquerda”.
Fugindo de inquéritos por racismo, fake news e sugerir que “os vagabundos” ministros do Supremo Tribunal Federal fossem presos, está em Washington como diretor “made in Brazil” do Banco Mundial. Nas redes sociais, insultou seguidora que lamentou sua crítica à comemoração da Proclamação da República, prometendo que, se a monarquia fosse restaurada, cuidaria dos estábulos onde estaria a mãe dela, “égua sarnenta e desdentada”.
Ao ser comprovado o tráfico de cocaína por um integrante da comitiva de Bolsonaro, como sempre foi rude: “No passado o avião presidencial transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”.
Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos. Religiosa fundamentalista, jura que evitou Jesus se arriscar ao subir num pé de goiaba. Leva a crer que adora mesmo é passear em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), levando amigos e parentes da “Micheque da Caixa”.
Dentre suas incongruências, acha que hotéis-fazenda servem para turistas transarem com animais. Com deboche, apoiou o veto à distribuição de absorventes femininos para estudantes pobres e mulheres em vulnerabilidade extrema: “Hoje a gente tem que decidir, a prioridade é a vacina ou é o absorvente?”.
Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Em flagrante desrespeito às Forças Armadas, é mais um militar levado a assumir área da qual nada entende. Por ser especialista em bajular e garantir “simples assim: um manda, outro obedece”, ganha supersalário duplo na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. Defensor da imunidade de rebanho, responde pela falta de oxigênio que sufocou até a morte dezenas de pessoas em Manaus, cidade que, no auge da pandemia, visitou para… passear de bermuda no shopping. Marcelo Queiroga, ministro da Saúde. Sobre vacinas e medidas de prevenção, muda de opinião e dá ordens desconexas dia sim, outro também.
Não se contrapõe às bestialidades de Bolsonaro na área da saúde, como propagar (semana passada) que, “na Inglaterra, quem tomou duas doses de vacina contra COVID-19 desenvolveu Aids” – mentira tão torpe que levou Facebook e Instagram a excluírem a live.
Roberto Alvim, ex-secretário Especial de Cultura. Copiou e assumiu discursos nazistas. Considera que “a classe teatral é radicalmente podre” e taxou a atriz Fernanda Montenegro de “bruxa, sórdida e canalha”. Mário Frias, secretário Especial da Cultura. Foi, com séquito e mordomias, à abertura da Mostra Internacional da Bienal 2021 de Veneza, cujo destaque é Lina Bo Bardi, agraciada “post mortem” com o “Leão de Ouro Especial”. Inquirido sobre a distinção, não sabia nada de nada, desconhecendo o que deveria ser sua missão oficial: agradecer o aplauso mundial aos projetos da arquiteta modernista que incluem Masp, Sesc Pompéia e Casa de Vidro, em São Paulo. Retornando ao Brasil, provou que além de inepto é execrável racista: postou em rede social que o historiador negro Jones Manoel, “precisa de um bom banho”, devido à sua cor.
Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares. Achincalha sua própria raça, com ditos tipo “a negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda… a escravidão foi benéfica para os descendentes… a vereadora Marielle é eloquente exemplo do que os negros não devem ser, foi preciso ser assassinada, só assim deixou de encher o saco”.
Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente. Marcado pelo desvio ilícito de madeira e obtenção de vantagens, acha que aquecimento global é bobagem. Diante do abissal desmatamento, propôs afrouxar a regulamentação ambiental: “Agora que estamos em um momento tranquilo porque a mídia está focada na COVID-19, temos que aproveitar para ir passando a boiada e simplificar as regras”.
Paulo Guedes, ministro da Economia. Administra como ninguém as finanças. As suas! Não age como devia diante da inflação e os preços na estratosfera de energia, combustíveis, comida e tudo mais, mas se protege bem, pois possui milhões em paraíso fiscal, o que não é ilegal… se não houver conflito de interesses. Quando ocupante de cargo cujas ações ou omissões pessoais beneficiem recursos próprios alocados lá fora, há choque com o Código de Conduta da Alta Administração Federal, que proíbe investimento em bens cujo valor/cotação possa ser afetado por decisão ou política governamental. Em situação análoga de “offshore” está o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Será que membros da corte em postos chave praticam o insidioso “aqui o meu não”, obtendo ganhos graças à instabilidade econômica que provocam? Finalizo com o apoio familiar a Bolsonaro, reforçado pelo filho homem mais novo, Renan. De desconhecido, passou a se envolver com negociatas e ganhou carro elétrico de brinde do empresário que levou, fora da agenda, para visitar o pai.
O jovem astro de reality sexual, papel obtido após viril anúncio de que “pegou metade” do condomínio onde vivia, foi com a mãe (filmada sendo cuspida por ele) morar em milionária mansão próxima do palácio onde o pai reside. Sobre as ex-esposas do autodefinido “imbroxável atleta”, elas amealharam pilhas de imóveis quando casadas com ele.
A atual, famosa por receber depósitos de cheques, graças à auréola de primeira-dama obtém vantagens para amigos, junto ao presidente da Caixa. E nem se envergonha de ir tomar vacina nos Estados Unidos, menosprezando o Sistema Único de Saúde (SUS), sobrevivente heroico das perversões do governo que desdenha da ciência e trata quem não é servil a ele como gado rumo ao abatedouro.
Sergio Prates
JORNALISTA
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