A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) anunciou os números do setor no primeiro semestre de 2021. Os dados indicam uma retomada do segmento em relação a 2020. O aumento na produção têxtil, de janeiro a maio de 2021, foi de 36% quando comparado a 2020. E as projeções para este ano são positivas: a fabricação deve crescer 7,4%, alcançando 2 milhões de toneladas. No que se refere à receita, espera-se 9,2% de aumento, atingindo R$ 57,5 bilhões.
Para o presidente da Abit, Fernando Pimentel, a retomada é um alívio, já que o setor sofreu um grande baque com a chegada da pandemia. “Ninguém sabia o que ia acontecer. A incerteza desabou o comércio, principalmente de vestuário, cama, mesa e banho. São itens essenciais, mas considerados postergáveis. Com a diminuição das vendas, a produção acabou sendo impactada”.
Ele explica que a maior parte da fabricação vai para a confecção de roupas. “No início, esse segmento teve um impacto de quase 90% no consumo. Foi preciso reinventar muitas coisas, um exemplo disso são as marcas que começaram a produzir e vender máscaras de tecido e até cirúrgicas. Outro ponto que trouxe fôlego ao setor foi a internet. As vendas on-line foram extremamente importantes para as empresas”.
Essa adaptação ao virtual foi essencial para a empresária Flávia Alessandra, proprietária de uma loja de roupas em Tiradentes. Ela explica que já existia um projeto de trabalhar on-line, mas que a pandemia acelerou o processo.
Flávia conta que observou aumento no preço dos fornecedores. “E isso não foi apenas com o vestuário. O alto custo dificultou tudo, tanto que empresas parceiras sentiram o mesmo peso desse encarecimento. A solução foi elevar o valor final dos produtos”.
O diretor de marketing de uma das maiores empresas de têxtil do país, João Bordignon, conta que foi preciso inflacionar o valor da produção de tecido para conseguir arcar com as despesas. “Ao longo do último trimestre de 2020 e primeiro semestre de 2021 tivemos que repassar os acréscimos que ocorreram nas nossas principais matérias-primas. Nosso maior impacto veio da alta de cancelamento de pedidos no início da pandemia. Houve também uma redução quase que absoluta de entrada de novos pedidos. Com isso, tivemos que parar a produção em maio, pois atingimos nosso limite de estoque e precisávamos preservar o caixa. Nossa produção caiu 30% quando comparada a 2020”.
O presidente da Abit explica que a flexibilização do isolamento trouxe demanda para a rede de produção. “No início, todo setor queria fazer caixa. Ninguém sabia quando as coisas voltariam ao normal. Deste modo, criou-se uma procura grande, tanto de compradores do país como do exterior. O auxílio emergencial também foi fundamental para dar fôlego ao setor, porque contribuiu para que as pessoas continuassem a consumir. Quando ele diminuiu, o varejo sentiu um pouco, mas a indústria conseguiu seguir produzindo”.
Projeções
Segundo Bordignon, as expectativas para o segundo semestre são otimistas. Com o avanço da vacinação em todo país e o retorno gradual do mercado, as vendas no varejo estão tendo boas respostas. “Para 2022, ainda não conseguimos prever. O índice de desemprego continua alto e a falta do auxilio emergencial pode afetar o consumo. Dependemos da capacidade do governo em responder com agilidade aos desafios da retomada da vida normal”.
Pimentel lembra que já passamos do meio do ano com duas datas importantes para o comércio: o Dia das Mães e dos Namorados. “As duas foram essenciais para o setor. O inverno também foi positivo, já que as temperaturas caíram e, com isso, as vendas de roupas de frio aumentaram. Até o momento, vislumbro um cenário positivo para o final de 2021, tanto na indústria, quanto no varejo”.
Entretanto, ele ressalta que é necessário ficar atento a diversas questões. “Uma delas é o avanço da variante Delta e o cenário de incerteza que a pandemia ainda causa. Outra é o índice de desemprego que está alto. Além disso, é importante observar a crise hídrica, no momento não trabalhamos com a possibilidade de um racionamento, mas não descartamos isso. E, por fim, o quadro político traz uma tensão para todo país. A confiança das pessoas fica abalada e isso prejudica a economia”, conclui.