O cartão de crédito continua sendo protagonista na vida das pessoas quando há uma necessidade de comprar algo e não se tem dinheiro, mas é importante lembrar que essa conta sempre chega. Para os brasileiros, principalmente das classes C e D, a relação com o dinheiro de plástico não está sendo fácil: de acordo com a pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), um terço dos consumidores (33%) que usaram cartão de crédito em agosto não sabe quanto gastou.
Além disso, cerca de 25% entraram no rotativo e 74% pagaram o valor integral da fatura, sendo que esse percentual cai para 64% nas classes C e D. Já a fatura média foi de R$ 882.
José Vignoli, educador financeiro do SPC Brasil, afirma que esses números traduzem a falta do planejamento financeiro das famílias brasileiras. “Elas não prestam atenção quando estão gastando e não dão a importância devida à fatura, o que gera problemas no orçamento e, consequentemente, sujam seus nomes”.
Ele ressalta também que as classes C e D tiveram, em um passado recente, um acesso maior às modalidades de crédito oferecidas pelos bancos e, agora, isso não é mais uma realidade. “Todo essa acessibilidade fácil ao dinheiro fez com que elas comprassem em longo prazo, mesmo não tendo condições de adquirir o bem, e com a vinda do desemprego, essa situação se agravou, o que fez com que essas classes, que sempre dependeram dos recursos dos bancos para fechar as suas contas do mês, se endividassem ainda mais”.
Ademais, de todas as modalidades de crédito oferecidas, o cartão é a mais fácil. “Esse é o meio de pagamento mais popular. Hoje, praticamente quase toda a população, independentemente da classe social, o usa. A facilidade oferecida por ele, seja na hora de comprar uma coisa e até mesmo a possibilidade de parcelar em várias vezes, dá uma falsa sensação de que essa conta nunca vai chegar e é aí onde está o erro”.
Bola de neve
O estudo constatou ainda que metade (50%) dos tomadores de empréstimos e financiamentos atrasaram, em algum momento, parcelas da dívida, sendo que 21% ainda estão com prestações pendentes. A sondagem mostra também que quatro em cada dez consumidores (42%) recorreram a algum tipo de crédito em agosto, número próximo da média dos últimos 12 meses. A modalidade mais mencionada foi o cartão de crédito, citado por 35%. Em seguida, aparece o crediário (9%), o limite do cheque especial (7%) e os empréstimos (6%).
Vignoli elucida que, para sair dessa bola de neve, os brasileiros endividados devem colocar as contas no papel, tentar negociá-las e, o ponto mais importante, cortar gastos. “Não se coloca débitos em dia sem sacrifício. As pessoas precisam rever os seus hábitos de consumo para que elas possam trabalhar com o seu dinheiro e não depender do banco para quitar as dívidas”, finaliza.
Fim do cartão
A vendedora Ana Paula Santos conta que há 2 anos era uma daquelas pessoas que tinham mais de três cartões de crédito e sempre se enrolava para pagar as faturas. “Cheguei a um ponto que estava com cinco cartões! Toda loja que ia e eles ofereciam essa possibilidade, eu fazia. Fiquei iludida com o crédito fácil e acabei me estrepando”.
O resultado desse descontrole financeiro foi uma dívida de mais de R$ 10 mil. “Eu passava tudo nos cartões de crédito, seja um lanche que comia na rua ou até as roupas que comprava. No dia que não consegui mais fazer isso, foi um ‘banho de água fria’ e confesso que acordei tarde demais”.
Atualmente ela não possui mais nenhum cartão e está pagando a dívida. “Quase que 80% do que recebo está sendo para quitar o que gastei. Está sendo difícil, mas só assim para dormir com a consciência limpa”, finaliza.