Dormir está diretamente ligado à qualidade de vida. Mas, com tantos momentos tristes e notícias ruins desde o surgimento da COVID-19, é de se esperar que muitos tenham perdido o sono. Um estudo feito por pesquisadores da Escola de Enfermagem e Inovação em Saúde Edson College da Universidade do Estado do Arizona apontou aumento nos sintomas de insônia, pior qualidade do sono e mudanças na hora de deitar.
A pesquisa analisou o impacto da pandemia no repouso de 991 pessoas com idade entre 18 e 80 anos, distribuídas por 79 países. Nesse grupo, 56,5% sofreram com o aumento de distúrbios para dormir.
O sono atrasado, caracterizado por ir dormir mais tarde que de costume, mas sem alteração na duração, foi relatado por 65% dos participantes. Com 20%, o segundo distúrbio mais comum foi o descanso perdido ou fragmentado, caracterizado por dormir mais tarde e durar menos. Cerca de 10% dos entrevistados foram classificados como “oportunistas do sono”, indivíduos que passaram a dormir mais durante a pandemia. Segundo a análise, essa alteração está associada a maior probabilidade de desemprego, estresse familiar e discussões dentro de casa. Outros 5% experimentaram uma noite “desregulada e angustiada”, marcada por cochilos, pesadelos intensos e maior gravidade dos sintomas de insônia.
Como explica o neurocirurgião Renato Chaves, uma boa noite de descanso exerce várias funções no nosso organismo. “Além da recuperação diária, muitos processos biológicos acontecem durante o período de sono, como o armazenamento de novas informações no cérebro, a liberação de resíduos tóxicos e a comunicação e reorganização das células nervosas, ativando a função cerebral. E quem não consegue completar esse ciclo de repouso, sofre no dia seguinte. Pode causar cansaço, fadiga, falhas na memória, na atenção, queda da imunidade, tristeza, irritabilidade, pressão alta e alterações hormonais”.
A aposentada Dirce Bramuci, 62, tem sofrido com os efeitos da insônia. “Não consigo dormir direito mais, muitas noites preciso tomar um ansiolítico para poder descansar um pouco. Penso demais, me preocupo muito desde que a COVID-19 levou meu sobrinho amado e algumas pessoas da minha família testaram positivo para a doença. Não sei se volto à vida normal mais”, relata a dona de casa que ainda avalia a procura por um tratamento.
De acordo com o neurologista e médico do sono há 20 anos, Giulio Pinhola, os distúrbios noturnos podem ser classificados como transitórios ou crônicos. “Se estou passando por um momento complicado, seja financeiro, afetivo ou social, aparentemente ele é temporário. Mas, existem problemas de sono persistentes e que acompanham as pessoas a vida toda. Esses casos precisam ser avaliados porque interferem nitidamente no desempenho das pessoas em suas funções no trabalho, na capacidade de dirigir e nas relações conjugais e familiares”, afirma.
Segundo Pinhola, o primeiro passo para sair da insônia é seguir as dicas de higiene do sono. “Existem muitos exemplos a serem evitados. Um deles é não praticar atividades físicas esgotantes à noite porque é o período em que o organismo se prepara para dormir e exercícios elevam a quantidade de adrenalina no sangue, a temperatura, a pressão arterial e a frequência cardíaca. Isso impede a iniciação do sono. Banho muito quente antes de dormir é outro exemplo que deve ser evitado devido ao aumento de temperatura”, aconselha.
Se a mudança de atitudes não resolver, é hora de buscar um especialista. “Procure ajuda para que se realizem exames específicos. Nunca se automedique ou siga orientações de ‘receitinhas’ da vizinha ou da amiga. O que um médico indicou para uma pessoa, nem sempre serve para você também. Cada organismo reage de maneira única aos medicamentos existentes”, esclarece.