A capital mineira registrou crescimento nos casos de abandono de animais durante a pandemia. Dados da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) mostram que, em janeiro deste ano, frente ao mesmo período de 2022, o número de bichos resgatados das ruas pelo Centro de Controle de Zoonoses aumentou 53,1%.
Já a Patrulha Ambiental da Guarda Municipal de BH aponta que, em comparação entre 2019 e 2020, as ocorrências saltaram 54%. No ano passado, houve o recolhimento de 57 bichos das ruas em 118 casos de maus-tratos.
Para Larissa Costa, coordenadora de marketing da ONG MRSC Beaga, que trabalha com a causa animal, essa elevação se deu, principalmente, à nova realidade socioeconômica do país e desinformação. “No início da pandemia, em 2020, as pessoas encontraram nos animais domésticos uma válvula de escape para o cenário desconhecido. Entretanto, com a volta da rotina, o fim do auxílio emergencial, a mudança de casa e o desemprego resultaram numa baixa nas adoções e aumento no abandono. Além disso, criou-se uma crença de que cães e gatos poderiam transmitir o novo coronavírus”.
Larissa acrescenta que esse desamparo com os animais é algo cultural. “Até pouco tempo, não tínhamos fiscalização que freavam os maus-tratos e, hoje, mesmo com a lei, é bastante burocrático fazer uma denúncia”.
A especialista em direito ambiental, Andreia Bonifácio, comenta que delatar é importante para a diminuição nas ocorrências. Estamos falando de um crime previsto no artigo 32 da Lei 9.605 de 1998. Recentemente, foi criada a Lei Sansão, que leva o nome de um cachorro da raça pitbull que teve as patas traseiras brutalmente cortadas por um vizinho. E essa nova norma garante que se os bichos, especificamente cães e gatos, forem maltratados ou desamparados, o responsável receba uma pena ainda maior.
A especialista em direito ambiental ressalta ainda que o abandono é um problema social e psicológico. “É necessário entender que o animal não está ali a bel-prazer e ao nosso dispor. Eles são fins de si mesmo, ou seja, possuem uma vida consciente”.
Segundo Larissa, receber um bicho em casa requer um planejamento de rotina, financeiro e até mesmo psicológico. O novo morador exige muito da gente ao longo da vida. O período de adaptação pode ser delicado: ambos estão se conhecendo, entendendo os sinais e os limites um do outro.
Ela lembra que existe insegurança e medo de ambas as partes. “O pet pode chorar mais, fazer barulho ou estragar algo. O segredo é ter paciência e dedicação. Passada essa fase inicial, o compromisso perdura enquanto o animal viver, em compensação, o amor e a fidelidade são incondicionais”, conclui.