Por décadas a fio os brasileiros têm ouvido uma frase comum: “somos o país do futuro”. Nada obstante, quando todos almejavam por uma luz no fim do túnel acontece algum contratempo, fazendo assim aumentar a angústia e gerando mais frustrações a nossa gente, sofrida e de mãos calejadas, marcas deixadas pela luta de quem é desafiado cotidianamente para provar que viver em uma nação subdesenvolvida é um desafio muito maior quão vaticinam as autoridades, especialmente, os estrategistas do sistema dominante.
Estamos falando de um Brasil desigual socialmente. Apenas 30% detêm a riqueza nacional, enquanto os demais trabalham para enriquecer ainda mais os poderosos. Esse enorme fosso social tende a aumentar, diante da crise sanitária ocasionada pelo novo coronavírus. Igualmente antes dessa guerra biológica já haviam outros senões impregnados em nossa lapela, com destaque para a propalada e endêmica corrupção, responsável ao longo de um século por solapar os recursos provindos dos impostos e cuja finalidade seria garantir o incremento de nossa nação.
Todavia, quando se desenhava um basta nessa sangria comandada pelos corruptos e por corruptores, chegamos à era da COVID-19. Além de o germe fazer com que o isolamento social trouxesse em seu bojo a desaceleração da economia, ainda postou em sua faceta a oportunidade para os espertalhões ativarem e praticarem a mesma rapinagem de outrora, como já registrado desde que Dom Pedro II mudou o regime brasileiro de Monarquia para República. Um horror, diga-se de passagem. Agora, diante do desafio provocado por esta tragédia mundial na saúde pública, nos resta adotar uma postura mais urbana.
Não basta apenas corroborar os fatos visando a manutenção do emprego. Carece haver um planejamento estratégico para permitir esperança às futuras gerações. Tudo poderia começar com o dever de casa sendo passado a limpo pelo poder público. Por exemplo, além de permitir um ensino básico de mais qualidade, se faz necessário manter o reforço para aperfeiçoar o preceito de saúde, oferecendo mais dignidade à vida do cidadão. Quem é minimamente informado sabe que o Sistema Único de Saúde (SUS), agora tido como instituto preponderante nas ações para minimizar os efeitos da COVID-19, estava sendo paulatinamente sucateado pelo governo federal nos últimos anos. Mas também existem outras aberrações, como a falta de cumprimento de leis determinando outras ações indutoras de melhor predicado ao povo.
Em síntese: se o problema à vista de reconhecida propagação é o desemprego e a desorganização da economia, paralelamente a essa realidade se conecta a outras situações complexas a serem corrigidas, visando permitir mais decência a todos. Veja por exemplo, questões como a falta de cumprimento da lei obrigando o recolhimento de lixo nas grandes cidades. Recentemente, uma pesquisa sobre o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana comprovou que em 3.313 municípios ainda existe o depósito de resíduos sólidos sendo feito de maneira irregular, enquanto uma média de 18,8 milhões de brasileiros ainda sequer têm coleta de lixo. E, como se sabe, esse tipo de realidade de nosso país também impacta negativamente na vida de todos por se tratar de um item importante da saúde pública.
São episódios complexos e ainda convivemos com pessoas sendo infectadas pelos esgotos escorrendo na superfície das vias públicas, especialmente nas localidades mais distantes das regiões centrais. Indubitavelmente, está na hora de enfrentar esses problemas, buscar um novo modelo de administração pública capaz de efetivamente encaminhar projetos estruturantes para erradicar a nossa pobreza crônica, evitando a indesejada estrada da convulsão social. Tudo carece ser feito para impedir que os moradores das comunidades, diante da fome e a falta de esperança, se vejam encorajados a tomarem ações mais drásticas, imputando contra os que muitos têm e nada dividem com os menos abastados. Enfim, rogamos a Deus pelo fim desse caminho escuro rumo ao gueto social.