Em meio a tantas informações, desdobramentos e perguntas sem respostas sobre o avanço do novo coronavírus no Brasil e no mundo, é fácil se sentir desnorteado, mas se até adultos não sabem exatamente como agir diante dessa nova realidade, imagine as crianças? Elas também viram suas rotinas serem mudadas, suas aulas suspensas e precisaram se afastar de familiares e amigos durante o isolamento social, portanto, é compreensivo que também se sintam ansiosas.
Para a psicopedagoga e psicanalista Ângela Mathylde, não existe idade certa para falar sobre o que está acontecendo. “Você pode conversar com bebês até adolescentes. A questão é a forma, por isso, fale de acordo com a maturidade da criança. É inevitável que se respeite esse quesito para que não haja medo, ansiedade, pânico, irritabilidade e tudo aquilo que tira a criança de sua segurança”, diz.
Em orientação a pais e professores, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) também aconselha abordar o tema com honestidade. “As crianças têm direito a informações verdadeiras sobre o que está acontecendo no mundo, mas os adultos também têm a responsabilidade de mantê-las protegidas dos problemas. Use uma linguagem apropriada para a idade, observe suas reações e seja sensível ao seu nível de ansiedade. Se você não sabe responder às perguntas delas, não invente. Use isso como uma oportunidade para explorar as respostas juntos em sites seguros, como da Organização Mundial da Saúde. Explique que algumas informações on-line não são precisas e que é melhor confiar nos especialistas”, diz o texto.
Para Ângela, não é indicado falar de forma que a criança não assimile. “‘Cuidado porque o coronavírus vai te pegar’ ou frases similares não são indicadas, pois não se deve plantar medo. Isso é muito ruim, porque traz insegurança, insatisfação e irritabilidade, uma vez que a criança confia no adulto. Se ele não consegue protegê-la e associa-se ao mal e ao medo, ela passa a se perguntar qual o papel do adulto na vida dela. O que devemos mostrar é que estamos juntos, temos limitações e podemos protegê-las, mediante o que entendemos como adultos”.
De acordo com a Unicef, um dos pontos importantes durante este período é impor limites diante dos vários conteúdos que os pequenos são expostos. “As crianças podem não distinguir entre imagens na TV e sua própria realidade pessoal, e podem acreditar que estão em perigo iminente. Você pode ajudar sua criança a lidar com o estresse, criando oportunidades para ela brincar e relaxar, principalmente, antes da hora de dormir”, indica a organização. E, para lidar com as notícias que, inevitavelmente, chegarão até elas, é preciso ser um modelo. “Seja exemplo. As crianças assimilarão a sua resposta às notícias, o que as ajudará a saber que você está calmo e no controle. Se você estiver ansioso ou chateado, reserve um tempo para si mesmo e para fazer coisas que o ajudem a relaxar e se recuperar”, recomenda a Unicef.
Ângela alerta que excesso sempre traz estresse, seja criança ou adulto. “Para os adultos que querem assistir algum conteúdo, colocar o fone no celular é uma boa opção. Mas, com a criança é preciso reduzir o nível de informações, pois não se sabe o grau de insegurança que ela está sentindo diante dessa situação. É possível usar historinhas para compreensão do cenário atual, a criança é muito simbólica, então tudo aquilo que é contado em histórias com final feliz, cunho emocional e moral,é mais fácil de entender”.