Como milhões de outros brasileiros, confesso que após o resultado das eleições presidenciais esperei que o governo escolhido desse certo. Até (bem) recentemente ainda acreditava no ministro da Economia. Agora, diante de tantas e constantes asneiras ditas ou atitudes tomadas seguindo exemplos de vários de seus colegas de cargos nababescamente pagos, minha esperança deu lugar à desilusão.
Paulo Guedes foi aterrorizante ao parecer preconizar nova ditadura, proclamando que “não se assustem se alguém pedir o AI-5”, relacionou a pobreza como inimiga do meio ambiente e, em tom de chacota, debochou da fisionomia da primeira dama da França.
Anunciou a pretensão de criar o “imposto do pecado” para aumentar a taxação sobre fumo, chocolates e cerveja. Após um puxão de orelhas (“cerveja não”, esbravejou e ordenou Bolsonaro), achincalhou os servidores públicos, categoria que classificou como parasita, termo popularizado pelo filme sul-coreano ganhador do Oscar 2020.
Não satisfeito com o tamanho do disparate, investiu maldosamente contra a laboriosa e sofrida classe das empregadas domésticas. Para defender o aumento desenfreado do dólar lamentou que com a moeda americana em valor baixo, “todo mundo estava indo pra Disneylândia: empregada doméstica indo pra Disneylândia. Uma festa danada. Peraí”. Espera aí digo eu! O Paulo Guedes não passa do meu e do seu empregado, porque somos nós que pagamos os seus régios salários para passar férias em Miami e tudo bem!
Há quem acredite que o ministro quer apenas demonstrar submissão total aos “ensinamentos” – entre aspas mesmo – do chefe mor, que possui voraz apetite de ser belicoso (como o seu líder Trump, que na verdade parece não estar nem aí para o assanhado admirador e os brasileiros que expulsa dos Estados Unidos). Bolsonaro continua em sua ânsia desenfreada de ter inimigos. Que o digam 20 governadores que no dia 17 assinaram um documento repudiando suas declarações recentes e pedindo que ele tenha equilíbrio e sensatez.
Outro tipo de ignorância nociva é o presidente falar que nossos livros didáticos são péssimos “porque tem muita coisa escrita”. Também é incrivelmente lamentável o que ocorre em nosso país, onde a ditatorial censura à cultura e à literatura em particular atinge até Machado de Assis!
Aliás, foram os livros – ou, talvez, o seu desprezo a eles – que levaram o capitão-presidente, numa ação indigna, a distribuir nova “banana” para os repórteres que indagavam sobre a redução da biblioteca presidencial visando dar espaço para a criação de mais um local reservado à primeira-dama. Para quem não sabe, muito recentemente foram gastos centenas de milhares de reais para reformar outra área destinada para os afazeres de dona Michelle.
Já se tornaram rotineiros os maus exemplos presidenciais como o absurdo racismo de dizer que “cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós”. Dias depois atacou uma valorosa entidade presente em mais de 40 países que questionou questões ambientais no Brasil: “Quem é Greenpeace? Quem é essa porcaria de Greenpeace? Isso é um lixo”!
Mas há, também, quem o capitão-presidente admire. Voltou a elogiar o ser que insiste em nomear presidente da Fundação Palmares. Para ele, esse tal de Sérgio Nascimento Camargo é excelente pessoa. Faz questão de desconhecer que o elogiado encarna o mais estúpido preconceito contra sua própria raça ao afirmar que “a negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda… a escravidão foi benéfica para os descendentes… sinto vergonha e asco da negrada militante… a vereadora assassinada do PSOL é um eloquente exemplo… é preciso que Marielle morra, só assim ela deixará de encher o saco”.
É lamentável que racistas da pior espécie como o escolhido para a Fundação Palmares possuam adeptos, como um procurador de Justiça do Pará para quem “o problema da escravidão no Brasil foi porque o índio não gosta de trabalhar até hoje”, e o presidente da República, que acha que índio nem humano é.
Depois, geralmente, cada um se desculpa “explicando” que a frase está fora do contexto, que não era bem isso que queria exprimir. É melhor que fiquem de boca fechada e mãos longe de teclados. Já chega termos de aguentar um ministro da Educação que no último dia 17, de dentro de um avião, publicou no Twitter: “Aonde está a pompa e a liturgia do cargo? Na poltrona 16A”, errando não só no advérbio – para lugar fixo o correto é “onde” – como na concordância verbal: deveria usar “estão” ao invés de “está”. Neste caso específico, o problema não é só a gramática, mas a proclamada magnificência!
Para terminar, como diria (se é que não disse) José Simão, na rádio Band News FM ou no jornal Folha de São Paulo: é uma piada pronta um país como o nosso, no qual o presidente escolhe um militar para ocupar a Casa Civil.
*Jornalista Reg. 1229 – MG / e-mail pratesergio@terra.com.br